Mais de 70 mortos no maior atentado de que há memória no Paquistão contra cristãos

Grupo terrorista com ligações à Al-Qaeda diz que cometeu atentado como resposta aos ataques com drones pelos EUA.

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Para além de 75 mortos, o atentado provocou mais de 100 feridos, muitos dos quais em estado grave Fayaz Aziz/Reuters

Pouco depois do final da missa de domingo, quando os cerca de 500 fiéis se preparavam para sair da igreja, dois bombistas suicidas correram em direcção à multidão e accionaram os seis quilos de explosivos que transportavam à cintura.

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Pouco depois do final da missa de domingo, quando os cerca de 500 fiéis se preparavam para sair da igreja, dois bombistas suicidas correram em direcção à multidão e accionaram os seis quilos de explosivos que transportavam à cintura.

"Vi corpos e pessoas feridas, a maioria mulheres e crianças a gritar. Alguns corpos tinham sido decapitados e havia restos mortais no chão", contou Saeed Ullah, de 24 anos, aos correspondentes do The Washington Post.

As autoridades locais sabiam que a igreja, construída em 1883, era um potencial alvo dos grupos terroristas da região e disseram que a segurança tinha sido reforçada, mas os sobreviventes acusam a polícia de não ter agido como devia.

"Esta região é um alvo do terrorismo, pelo que houve um reforço do dispositivo de segurança em redor da igreja. Estamos a proceder às operações de salvamento, mas assim que acabarmos, iremos investigar o que correu mal", disse à agência AFP o comissário da polícia de Peshawar, Sahibzada Anees.

O atentado deu origem a protestos de cristãos em várias cidades paquistanesas, com especial incidência em Peshawar, onde uma multidão em fúria bloqueou ruas com corpos das vítimas e pneus queimados, relatou a agência Press Trust of India.

Situada perto da fronteira com o Afeganistão, a região de Peshawar é palco de frequentes ataques de grupos terroristas, nomeadamente o Movimento dos Taliban do Paquistão, com ligações à Al-Qaeda.

Até agora, a minoria cristã tinha escapado a atentados desta dimensão — os extremistas da maioria muçulmana sunita têm como alvo preferencial a comunidade xiita. Por isso, o atentado deste domingo, que deixou mais de 100 pessoas feridas, foi considerado pelas autoridades do país como o mais grave de que há memória.

O primeiro-ministro, Nawaz Sharif — que assumiu o cargo em Junho, com a promessa de reduzir a violência religiosa —, declarou que "actos cruéis de terrorismo como este reflectem a brutalidade e a desumanidade da ideologia dos terroristas".

"Os terroristas não têm religião. Atacar pessoas inocentes é contrário aos ensinamentos do islão e de todas as religiões", afirmou o chefe do Governo, ao mesmo tempo que exprimiu a sua "solidariedade com a comunidade cristã".

Numa reacção ao atentado, o líder da Igreja Católica denunciou "a opção pelo ódio e pela guerra". "Hoje, no Paquistão, por uma escolha errada, uma escolha pelo ódio e pela guerra, mais de 70 pessoas morreram. Este não é o bom caminho, não serve a ninguém", declarou o Papa Francisco.

A autoria do atentado foi reivindicada pelo grupo terrorista paquistanês Jundallah, uma ramificação do Movimento dos Taliban do Paquistão com ligações à Al-Qaeda, responsável pela morte de oito alpinistas estrangeiros e um guia paquistanês em Junho.

Um porta-voz do grupo, identificado como Ahmed Marwat, disse à revista Newsweek Pakistan que o atentado teve como objectivo "vingar" os ataques com drones na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. "Enquanto os ataques com drones prosseguirem, nós continuaremos a atacar não-muçulmanos onde quer que encontremos uma oportunidade", cita a revista.