Somália está a sofrer surto explosivo de poliomielite

Médicos Sem Fronteiras retiraram-se por não haver segurança no país, em grande parte controlado por milícia islâmica Al-Shabab.

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Clínica dos Médicos Sem Fronteiras: com a sua partida, será mais dificil controlar o surto MOKHTAR MOHAMED/AFP

Nas áreas controladas pelas milícias islâmicas Al-Shabab, sete em cada dez crianças não estão vacinadas contra a poliomielite – uma doença que está quase erradicada da face da terra através da imunização. Actualmente é considerada endémica apenas em três países: Afeganistão, Nigéria e Paquistão. A Índia foi riscada da lista de países ainda martirizados pela doença também conhecida como paralisia infantil em Fevereiro de 2012.

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Nas áreas controladas pelas milícias islâmicas Al-Shabab, sete em cada dez crianças não estão vacinadas contra a poliomielite – uma doença que está quase erradicada da face da terra através da imunização. Actualmente é considerada endémica apenas em três países: Afeganistão, Nigéria e Paquistão. A Índia foi riscada da lista de países ainda martirizados pela doença também conhecida como paralisia infantil em Fevereiro de 2012.

Na Somália foram registados 105 casos até sexta-feira, e dez outros num campo de refugiados somalis no Quénia, diz a Associated Press. Em todo o mundo, foram registados 191 casos de poliomielite este ano, incluindo estes na Somália e no Quénia. O vírus que está na origem desta doença espalha-se quando há falta de esgotos e água limpa. Invade o sistema nervoso e pode causar paralisia.

A campanha de vacinação iniciada em Maio chegou a quatro milhões de pessoas na Somália, mas há 600 mil crianças que vivem em áreas do Sul e Centro do país controladas pelas milícias islâmicas às quais as vacinas dificilmente chegarão. Durante a seca e fome de 2011, a Al-Shabab – relacionada com a Al-Qaeda  – proibiu o acesso da maior parte das agências e organizações não governamentais às áreas do país que controlava.

Os MSF tinham mais de 1500 pessoas a trabalhar na Somália, explicou Unni Karunakara,  presidente internacional da organização. Mas resolveram retirar-se do país, após 22 anos lá, porque o seu trabalho se tornou cada vez mais impossível. Nestes anos morreram 16 trabalhadores desta organização, que foi alvo de dezenas de ataques contra o seu pessoal, ambulâncias e instalações médicas. Recentemente, os ataques tornaram-se mais constantes e violentos.

“É muito perturbante, porque este surto é explosivo”, comentou à agência noticiosa norte-americana Oliver Rosenbauer, porta-voz da Iniciativa para a Erradicação da Poliomielite da Organização Mundial de Saúde.

A poliomielite é uma doença em desparecimento. Em 2012 foram registados apenas 223 casos, quando em 1988 eram 350 mil em todo o mundo. Há seis anos a doença não existia na Somália.