Mães podem tornar-se mais agressivas durante crises económicas

Estudo revela que mulheres com uma determinada variação genética são mais propensas a bater nos filhos em caso de desemprego ou fraco poder de compra.

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Daniel Rocha

Na investigação, divulgada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foram utilizados dados de um estudo nacional que acompanhou 4898 crianças, 1186 das quais nasceram de pais casados e 3712 de pais sem uma relação conjugal oficializada. Esta amostra representa crianças nascidas em 20 grandes cidades norte-americanas entre 1998 e 2000. As mães foram entrevistadas pouco depois do nascimento dos seus filhos, tal como os pais. Os encontros entre a equipa que realizou o estudo iniciado em 1998 e os pais ocorreram quando a criança tinha um, três, cinco e nove anos.

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Na investigação, divulgada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foram utilizados dados de um estudo nacional que acompanhou 4898 crianças, 1186 das quais nasceram de pais casados e 3712 de pais sem uma relação conjugal oficializada. Esta amostra representa crianças nascidas em 20 grandes cidades norte-americanas entre 1998 e 2000. As mães foram entrevistadas pouco depois do nascimento dos seus filhos, tal como os pais. Os encontros entre a equipa que realizou o estudo iniciado em 1998 e os pais ocorreram quando a criança tinha um, três, cinco e nove anos.

Nas entrevistas realizadas às mães quando as crianças tinham três, cinco e nove anos foi-lhes perguntado se já tinham utilizado uma das dez técnicas de punição, que incluíam palmadas, abanões, gritos ou ameaças verbais, e em que situações. Para cada uma das categorias, as mulheres tiveram de responder quantas vezes tinham recorrido a estas no último ano. No ano nove do estudo, foram ainda recolhidas amostras de saliva das mães para criar uma base de dados de DNA. O objectivo era determinar se existia uma ligação entre o comportamento parental e marcadores genéticos específicos.

Com base no estudo realizado entre 1998 e 2000, uma equipa da Universidade de Nova Iorque, liderada pelo sociólogo Dohoon Lee, revela que situações como a última recessão económica nos Estados Unidos, entre 2007 e 2009, têm um impacto negativo no comportamento das mães, mesmo que estas não tenham sido directamente afectadas. Bastou em alguns casos que se sentissem ameaçadas com dados como o aumento do desemprego na sua cidade.

O estudo liderado por Dohoon Lee sugere que o ambiente em que a mãe vive pode ter um impacto maior no comportamento da mulher e em particular quando é tida em conta a existência de variações genéticas.

Sensíveis a alterações
Estas características foram verificadas em cerca de 50% das mulheres estudadas, todas com um perfil genético específico que as tornou mais sensíveis a alterações na sua vida. Essas variações referem-se ao gene DRD2 e foram associadas a falhas no sistema de dopamina no cérebro. Quando a concentração da dopamina se altera no cérebro, como numa situação de stress, o bom funcionamento deste sistema pode ser posto em causa. A dopamina é essencial para o controlo dos movimentos e regula a agressão e a impulsividade.

Segundo o estudo, para as mulheres que não tinham este perfil genético, as boas e más notícias da economia não afectaram o seu comportamento com os filhos.

Apesar da equipa de Lee sublinhar que as consequências das crises económicas na severidade parental são “modestas mas muito significativas”, indica que se concluiu que “a antecipação de uma adversidade foi mais importante para a severidade parental que a verdadeira exposição” a um problema económico.

O estudo sublinha ainda que algumas pessoas são mais fortes emocionalmente que outras. “Seres humanos com genes sensíveis, como orquídeas, murcham ou morrem em ambientes pobres, mas florescem em ambientes ricos, enquanto flores como as dente-de-leão sobrevivem em ambientes pobres e ricos”, argumentou Irwin Garfinkel, um dos co-autores do estudo e professor na Universidade de Coloumbia.

Outros dos investigadores do estudo, Sara McLanahan, professora de Sociologia na Universidade de Princeton, considera que estes resultados mostram que as “pessoas podem adaptar-se a circunstâncias difíceis quando sabem o que as espera, enquanto é mais difícil de lidar com o medo e a incerteza do futuro ”.