Movimento Passe Livre suspende protestos em São Paulo por causa de “infiltrados conservadores”

Conservadores e agressões a políticos motivam suspensão.

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Protestos aconteceram em muitas cidades brasileiras Reuters

Segundo um dos elementos da organização do MPL, que agora luta por “tarifa zero” nos transportes públicos depois de o governo estadual ter recuado nos aumentos, a suspensão dos protestos deve-se ao facto de as manifestações dos últimos dias terem sido “infiltradas por grupos conservadores” que defendem propostas como a redução da maioridade penal e a criminalização do aborto.

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Segundo um dos elementos da organização do MPL, que agora luta por “tarifa zero” nos transportes públicos depois de o governo estadual ter recuado nos aumentos, a suspensão dos protestos deve-se ao facto de as manifestações dos últimos dias terem sido “infiltradas por grupos conservadores” que defendem propostas como a redução da maioridade penal e a criminalização do aborto.

"A gente acha que grupos conservadores se infiltraram nos últimos actos para defender propostas que não nos representam", disse Rafael Siqueira, citado pela Folha de São Paulo. O recuo do movimento terá sido decidido no final da noite de quinta-feira, após os incidentes na Avenida Paulista.

Siqueira, de 38 anos, professor de Música e activista do MPL desde 2006, explicou que as agressões a militantes de partidos políticos na manifestação de quinta-feira, em São Paulo e noutras cidades, também motivaram o grupo a tomar essa decisão.

"Mesmo que sejamos contra a política de transporte duma prefeitura do Partido dos Trabalhadores (PT), achamos que o PT deve ter total garantia de participar nas manifestações públicas", disse Siqueira à Folha de São Paulo.

Segundo o MPL, desde a manifestação de terça-feira, grupos de direita (não se sabe se organizados ou não) levaram às ruas cartazes e reivindicações que não representam o MPL, o que gerou preocupação entre os activistas daquele movimento, pois "distorce a iniciativa".

Na quinta-feira, escreve a Folha de São Paulo, um grupo de manifestantes, denominados "nacionalistas", entrou em confronto com pessoas que estavam com bandeiras de partidos durante o protesto contra os preços dos transportes públicos na Avenida Paulista, no centro de São Paulo.

"A gente conquistou uma vitória popular na cidade, que foi a revogação do aumento. A gente acha que isso é importante, e está claro que essa revogação foi fruto da mobilização chamada pelo Movimento Passe Livre. Não foi só o MPL que participou, tornou-se uma revolta popular, uma coisa muito mais ampla. Mas uma vez que se revogou o aumento, o objectivo inicial das manifestações foi cumprido. E não tem sentido a gente continuar chamando as manifestações contra o aumento", disse Lucas Monteiro, um dos líderes do movimento, em entrevista à SPTV.

Magistrados na rua
Para esta sábado está convocada uma manifestação dos procuradores da República e magistrados do Ministério Público de São Paulo contra a polémica PEC 37, já conhecida como a Lei da Impunidade.

A PEC 37 é uma proposta de emenda constitucional ao artigo 37 que retira o poder de investigação do Ministério Público, conferindo tal atribuição exclusivamente às polícias judiciárias. Entre 2010 e 2013, o Ministério Público foi responsável por 15 mil acções penais, entre elas as de corrupção que envolvem políticos e a polícia; casos mediáticos como o "Mensalão" (que envolveu membros do Governo Lula) ou o de Paulo Maluf, antigo governador e presidente da Câmara de São Paulo. A votação da proposta que estava marcada para o início da semana que vem foi, na quarta-feira à noite, adiada a pedido do Governo com receio de que aumentasse ainda mais a indignação nas ruas.