Membro da Liga do Norte afastada após apelo à violação de ministra italiana

Esta não é a primeira vez que a ministra da Integração é alvo de comentários violentos desde que se tornou a primeira mulher negra a integrar um governo italiano.

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“Mas não há nada que a viole, ao menos para que possa entender o que sente a vítima de um crime infame? Que vergonha!” No comentário, Valandro não escreve o nome da ministra, mas a foto que acompanha um artigo do site Todos os Crimes de Imigrantes sobre a tentativa de violação e que a membro da Liga Norte replica no Facebook é de Cecile Kyenge, uma italiana de origem congolesa, de 49 anos, que se tornou a primeira mulher negra a integrar um governo em Itália.

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“Mas não há nada que a viole, ao menos para que possa entender o que sente a vítima de um crime infame? Que vergonha!” No comentário, Valandro não escreve o nome da ministra, mas a foto que acompanha um artigo do site Todos os Crimes de Imigrantes sobre a tentativa de violação e que a membro da Liga Norte replica no Facebook é de Cecile Kyenge, uma italiana de origem congolesa, de 49 anos, que se tornou a primeira mulher negra a integrar um governo em Itália.

O comentário foi notícia imediata no país e suscitou a indignação da classe política. A Valandro custou a expulsão da Liga Norte, que já esclareceu não estar associada à posição assumida pelo seu membro. O líder dos senadores da Liga Norte, Massimo Bitonci, lamentou a “frase violenta, estúpida e inoportuna” de Valandro, assegurando que seriam “tomadas de imediato medidas disciplinares” e que seria exigido a Valandro que retirasse o seu comentário da rede social e "pedisse desculpas”.

A estas críticas juntam-se as de Flavio Tosi, presidente da câmara de Verona e secretário regional da Liga Norte, que considerou a frase “inqualificável” e anunciou que a expulsão de Valandro ficará concluída esta sexta-feira.

Depois de ver o seu comentário tornar-se viral nas redes sociais e fortemente criticado pelo seu partido, Dolores Valandro fez um pedido de desculpas durante uma entrevista à Rádio Capital italiana, afirmando que tudo não passou de “uma piada num momento de raiva”. “Peço desculpas. Não pensei num momento de raiva. Foi a minha maneira de desabafar. Na realidade sou mais doce do que um doce”, disse a italiana.

Kyenge ameaçada pelo racismo
Esta não é a primeira vez que a ministra da Integração é alvo de comentários violentos em Itália, nem mesmo por parte da Liga Norte. Dias depois de ter sido uma das sete mulheres escolhidas para integrar o novo executivo italiano do primeiro-ministro Enrico Letta, Kyenge era já motivo de comentários por parte do partido xenófobo que integrou a coligação governamental de Silvio Berlusconi.

Mario Borghezio, eurodeputado da Liga Norte, referiu-se à coligação de Enrico Letta como o “governo bonga-bonga” e a Kyenge como alguém que parece ser “uma boa dona de casa mas não uma ministra”.

Kyenge, uma médica oftalmologista da República Democrática do Congo que chegou a Itália aos 18 anos, tem assumido posições sobre a integração dos imigrantes e o reforço dos seus direitos enquanto deputada do Partido Democrata e agora como ministra que a colocam na linha de fogo da extrema-direita italiana. Termos como “zulu”, “negra anti-italiana” ou “macaca congolesa” têm surgido em sites e blogues em Itália. A ministra tem dado apenas uma resposta a estes comentários: “Não sou de cor, sou negra e digo-o com orgulho.”

Esta sexta-feira, numa reacção ao comentário de Dolores Valandro, defendeu que não é só ela que se deve mostrar ofendida. “Todos devem sentir-se ofendidos com essas declarações”, sustentou na sua conta no Twitter. A ministra acrescentou que este tipo de comentário “tenta incitar à violência junto do público” e é “um insulto a todos os italianos”.

O primeiro-ministro italiano já veio manifestar o apoio à ministra da Integração. “Cada um de nós deve sentir-se ofendido. Em sinto-me ofendido. Cecile merece a minha solidariedade pessoal, bem como a do Governo e a do país”, afirmou Letta num comunicado divulgado esta sexta-feira citado pelas agências AFP e Reuters.  

A presidente da Câmara dos Deputados italiana, Laura Boldrini, também ela alvo de insultos sexistas desde que assumiu o cargo, lamentou o sucedido. “As palavras da conselheira da Liga Dolores Valandro são inaceitáveis e cheias de racismo e ódio. O que é pior é que é uma mulher, com um papel na política, a sugerir a violação como punição."