Protesto contra preço dos transportes em São Paulo acaba em violência

Foram detidas 19 pessoas, 11 acusadas de formação de quadrilha. Pelo menos oito polícias e dois manifestantes feridos.

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O centro de São Paulo voltou a ser ocupado por milhares de pessoas, que protestaram contra o aumento dos preços das redes de autocarro, metropolitano e comboios, de três reais (1,05 euros) para 3,20 reais (1,12 euros).

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O centro de São Paulo voltou a ser ocupado por milhares de pessoas, que protestaram contra o aumento dos preços das redes de autocarro, metropolitano e comboios, de três reais (1,05 euros) para 3,20 reais (1,12 euros).

Segundo os relatos dos media brasileiros, foram registados ataques contra dois autocarros, agências bancárias e uma estação de metropolitano. Os manifestantes lançaram pedras e paus contra agentes da polícia, que por sua vez usaram balas de borracha e gás pimenta. Oito polícias ficaram feridos e duas outras pessoas foram atropeladas, quando o condutor de um automóvel forçou a passagem por entre os manifestantes.

Foi um autêntico "clima de guerra", como descreve o site da Folha de S. Paulo. Os manifestantes afirmam que os confrontos começaram com uma carga policial, mas as autoridades dizem que se limitaram a responder.

"Acredito que foi o dia mais violento, pela intensidade e pela animosidade dos manifestantes", disse o tenente-coronel Marcelo Pignatari, citado pelo portal de notícias G1, da Rede Globo. O responsável disse que alguns manifestantes lançaram cocktails molotov contra a polícia. "Pessoas que querem defender uma ideia contra o aumento da tarifa não trazem esses acessórios", condenou.

Um dos elementos do Movimento Passe Livre – que defende "um transporte público gratuito e de qualidade", como se pode ler no seu site –, identificado apenas como Marcelo, acusou as autoridades de terem instigado a violência com uma carga policial no Parque Dom Pedro II. "Antes disso, houve alguns pequenos focos de conflito sem importância. Não teve nada disso antes de a polícia iniciar a repressão", cita o G1. O principal problema parece ser a falta de coordenação do movimento: "Com mais de 15 mil pessoas, não dá para controlar", admitiu o manifestante.

Também o tenente-coronel Marcelo Pignatari frisou esta aparente descoordenação: "O facto de o movimento não ter um líder que assuma responsabilidade dificulta a negociação", disse, citado pela Folha de S. Paulo.

Nina Cappello, de 23 anos, estudante de Direito e uma das organizadoras do Movimento Passe Livre, disse ao mesmo jornal que "a manifestação estava pacífica". "A gente parou a Radial Leste e tínhamos como itinerário o Parque Dom Pedro II. Mas teve uma repressão muito grande ali", disse.

O governador de S. Paulo, Geraldo Alckmin, do Partido da Social Democracia Brasileira, classificou os manifestantes como "baderneiros e vândalos" e o prefeito Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, afirmou que os protestos foram protagonizados por "pessoas inconformadas com o Estado democrático de direito".

A polícia estima que a manifestação da noite de terça para quarta-feira tenha contado com a participação de 5000 pessoas. Foi o terceiro protesto organizado pelo Movimento Passe Livre na última semana, e o terceiro a terminar em confrontos entre polícia e manifestantes, embora os outros dois tenham sido menos violentos.

As autoridades da cidade continuam a defender aquilo que chama um "reajustamento" das tarifas dos transportes públicos, alegando que a subida ficou abaixo do valor da inflação.

A indignação com a subida dos preços dos transportes públicos no Brasil começou com a revogação do aumento em Porto Alegre – a justiça decidiu manter o valor nos 2,85 reais (0,99 euros), contra a intenção das autoridades locais de aumentarem para 3,05 reais (1,06 euros). Depois de Porto Alegre, também São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia anunciaram aumentos dos preços.