Manifestantes e polícia de choque concentrados em frente à TV pública grega

Profissionais recusaram abandonar as instalações após a ordem de encerramento dada pelo Governo de Atenas. Emissão prossegue na Internet.

Fotogaleria

Nesta manhã, vários funcionários dos canais públicos apresentaram-se ao trabalho, com a emissão a ser difundida pela Internet, em www.ert.gr, nas frequências digitais e também através de um canal local – o 902, que é propriedade do partido comunista KKE e que foi disponibilizado aos jornalistas da estação pública.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Nesta manhã, vários funcionários dos canais públicos apresentaram-se ao trabalho, com a emissão a ser difundida pela Internet, em www.ert.gr, nas frequências digitais e também através de um canal local – o 902, que é propriedade do partido comunista KKE e que foi disponibilizado aos jornalistas da estação pública.

O pessoal que se recusou a abandonar os estúdios está a assegurar a transmissão de debates sobre a decisão surpreendente do Governo, anunciada na véspera, e justificada pela necessidade de pôr fim à alegada má gestão e desperdício financeiro vigente na ERT. “É um caso excepcional de falta de transparência e de incrível extravagância”, declarou o porta-voz do executivo, Simos Kedikoglou.

A medida extraordinária atirou para o desemprego imediato cerca de 2700 funcionários, que segundo Kedikoglou terão oportunidade de se recandidatar aos antigos cargos quando for aberto o concurso de recrutamento de pessoal para uma nova operação do Estado, “mais moderna”.

Na última visita ao país da troika, foi exigida uma redução de 15 mil trabalhadores do quadro do Estado até ao fim do ano – a lei foi aprovada pelo Parlamento em Abril, como condição para a disponibilização de mais uma tranche de 8800 milhões de euros do empréstimo internacional. O anúncio do encerramento do serviço público foi feito depois de confirmado o falhanço da privatização da empresa estatal de gás DEPA. O decreto urgente que consagra a extinção da ERT foi assinado apenas pelos ministros pertencentes à Nova Democracia, o partido maioritário da coligação que governa a Grécia.

Nos últimos minutos de emissão, antes do corte do sinal, o pivot Antonis Alafogiorgos despediu-se classificando a decisão como “um golpe na democracia”. “Estamos todos em choque e estamos todos muito zangados. Não podemos aceitar que um regime democrático como o grego venha a prescindir do serviço público”, comentou a responsável pela editoria internacional, Olin Linardatou, à BBC.

O Governo decidiu enviar a polícia de choque para as imediações da ERT perante a concentração de manifestantes, munidos de bandeiras e faixas que deploravam o “autoritarismo” do primeiro-ministro conservador Antonis Samaras.

Os editoriais dos jornais desta manhã destacavam o “risco político” que o Governo assumiu ao suspender o serviço público de informação. “É esta a melhor maneira de assegurar que a coligação se mantém intacta e funcional? É avisado voltar a despertar as forças do protesto e resistência que se tinham acalmado?”, perguntava Nick Malkoutzis num artigo na edição inglesa do jornal Kathimerini.

O sindicato dos jornalistas de Atenas convocou uma greve de 48 horas, a partir de amanhã, em protesto contra o encerramento da ERT e solidariedade com os seus colegas. O sindicalista Panayotis Kalfanayanis disse que o assunto seria levado à justiça grega e europeia, e apelou à ocupação popular do edifício enquanto os tribunais não se pronunciam. “Mesmo se o Governo quer destruir a democracia, não vamos desistir de lutar pela aplicação da lei”, disse à AFP.

A estação de rádio e televisão do Estado foi criada em 1938. Actualmente assegura três canais de televisão e várias estações de rádio nacionais, regionais e o serviço internacional Voz da Grécia. É financiada através de uma taxa mensal de 4,30 euros acrescentada à factura da electricidade.