ALMA observa fábrica de cometas e dá pistas de como nascem os planetas

Radiotelescópio europeu mostrou região à volta de uma estrela onde o pó pode agregar-se para dar objectos maiores. Descoberta publicada na Science.

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À volta de uma nova estrela o pó têm de agregar-se para formar planetas, mas não havia explicação L. Calçada/ESO

O Sistema Solar com os seus oito planetas não é um caso excepcional, nos últimos anos confirmou-se que outros planetas abundam no Universo. O resultado final varia de sistema estelar para sistema estelar, há por exemplo estrelas com grandes júpiteres incandescentes a girar muito perto do seu Sol, em vez de um planeta rochoso como Mercúrio. Mas não se percebe muito bem como é que no início de vida de uma estrela os planetas conseguem emergir. O que se sabe é que à volta de um sol recém-nascido haverá um disco de poeira e esta poeira terá de se agregar formando corpos com massas cada vez maiores que finalmente resultam nos planetas.

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O Sistema Solar com os seus oito planetas não é um caso excepcional, nos últimos anos confirmou-se que outros planetas abundam no Universo. O resultado final varia de sistema estelar para sistema estelar, há por exemplo estrelas com grandes júpiteres incandescentes a girar muito perto do seu Sol, em vez de um planeta rochoso como Mercúrio. Mas não se percebe muito bem como é que no início de vida de uma estrela os planetas conseguem emergir. O que se sabe é que à volta de um sol recém-nascido haverá um disco de poeira e esta poeira terá de se agregar formando corpos com massas cada vez maiores que finalmente resultam nos planetas.

Os modelos que os cientistas foram testando no passado revelaram dois problemas. É fácil duas partículas chocarem e unirem-se, mas objectos maiores ao chocarem irão partir-se em pedaços mais pequenos. Por outro lado, à medida que as partículas vão sendo maiores, os modelos mostram que há uma tendência para elas viajarem em direcção ao Sol devido à gravidade.

Se estes fenómenos realmente acontecessem na natureza como aparecem nos modelos, então não estaríamos aqui. Por isso, os cientistas tentaram observar estrelas em início de carreira para tentar encontrar uma explicação.

Um céu seguro
Uma das hipóteses que já se tinha proposto era existirem de regiões seguras no disco estelar onde o pó podia calmamente agregar-se. Foi algo parecido com isto que Nienke van der Mare, doutorando do Observatório de Leiden, na Holanda, ajudou a identificar. O investigador e outros colegas trabalharam com o ALMA para estudar o disco da estrela Oph IRS 48, que tem 15 milhões de anos e situa-se a 391 anos-luz.

A equipa encontrou uma região no disco estelar onde as partículas de gás maiores parecem estar presas. Esta região com a forma de “castanha de caju”, segundo Nienke van der Mare, terá sido provavelmente criada por um grande planeta ou pequena estrela que, ao passar, deixa atrás de si uma espécie de vórtice onde estas partículas ficam bloquedas e podem agregar-se fazendo crescer corpos maiores.

“É provável que estejamos a olhar para uma fábrica de cometas já que as condições são boas para que as partículas cresçam até objectos do tamanho de cometas. Não é provável que o pó cresça até formar planetas já que esta bolsa está muito longe da estrela”, explica o investigador. “Mas dentro de pouco tempo o ALMA será capaz de observar estas armadilhas de poeira mais perto da estrela, onde os mesmos mecanismos estão a acontecer. Essas armadilhas seriam mesmo os ninhos de planetas acabados de se formar.”

Mas num comentário da Science ao artigo, Philip J. Armitage, da Universidade do Colorado, indaga se será mesmo assim. Esta bolsa de poeira observada pelo ALMA nasceu devido à existência prévia de um corpo maior. Se esta for a única maneira de haver uma porção de céu seguro, como se terá formado o primeiro planeta? Ficamos à espera das respostas..