Paul Krugman diz que Portugal vive um “pesadelo” económico-financeiro

O que os portugueses estão a passar “é inaceitável”, entende o prémio Nobel da Economia.

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Miguel Manso

“Não me digam que Portugal tem tido más políticas no passado e que tem profundos problemas estruturais. Claro que tem, e todos têm, mas, sendo que em Portugal a situação é mais grave do que noutros países, como é que faz sentido que se consiga lidar com estes problemas condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores disponíveis?”, frisa Paul Krugman num artigo publicado nesta segunda-feira no seu blogue do New York Times, intitulado Consciência de Um Liberal.

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“Não me digam que Portugal tem tido más políticas no passado e que tem profundos problemas estruturais. Claro que tem, e todos têm, mas, sendo que em Portugal a situação é mais grave do que noutros países, como é que faz sentido que se consiga lidar com estes problemas condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores disponíveis?”, frisa Paul Krugman num artigo publicado nesta segunda-feira no seu blogue do New York Times, intitulado Consciência de Um Liberal.

O Nobel da Economia de 2008 debruça-se sobre a situação portuguesa partindo de um artigo publicado no jornal Financial Times. Para o economista, se a Europa avançasse no sentido da política monetária e orçamental expansionista, ou seja, se aumentasse a circulação de dinheiro na economia, Portugal encontraria aí a resposta para os seus problemas, “conhecidos há muitas décadas”.

O economista reconhece que, nesse campo, “Portugal não pode fazer as coisas por conta própria, porque já não tem moeda própria”. Mas contrapõe: “OK então: ou o euro deve acabar ou algo deve ser feito para fazê-lo funcionar, porque aquilo a que estamos a assistir (e os portugueses a experimentar) é inaceitável”, sublinha.

Krugman insiste, por isso, numa expansão “mais forte na zona do euro como um todo”, “uma inflação mais elevada no núcleo europeu”, tendo em mente que o Banco Central Europeu (BCE), assim como a Reserva Federal Americana, são contra taxas de juro próximas de zero.

“Pode e deve tentar-se aplicar políticas não convencionais, mas é preciso tanta ajuda quanto possível ao nível da política orçamental e não uma situação em que a austeridade na periferia é reforçada pela austeridade no núcleo”, frisou. Mas pelo contrário, reforçou, aquilo a que se tem assistido nos últimos três anos é a uma política europeia “focada quase que inteiramente nos supostos perigos da dívida pública”. “O importante agora é mudar as políticas que estão a criar esse pesadelo”, concluiu.

Memórias com Silva Lopes e Miguel Beleza
Num outro texto no seu blogue, Krugman lembra como, em 1975, o então governador do Banco de Portugal, José da Silva Lopes, que veio a ser ministro das Finanças, pediu aconselhamento especializado ao Massachusetts Institute of Technology (MIT). Depois de uma primeira visita de professores da conhecida faculdade norte-americana, Portugal contou no Verão de 1976 com a ajuda de cinco estudantes do MIT, entre eles Miguel Beleza, mais tarde governador do Banco de Portugal e ministro das Finanças, assim como o próprio Krugman.

“A julgar pela reputação académica de que [estes responsáveis] viriam a gozar mais tarde, eles [portugueses] tiveram um grande grupo. Um ano depois, chegariam David Germany, Jeremy Bulow e, imaginem quem, Ken Rogoff”, conta Krugman, referindo-se a um dos dois autores do polémico estudo sobre o impacto da dívida pública no crescimento, citado por vários governantes na defesa da austeridade, mas posto em causa por três economistas norte-americanos que detectaram erros de cálculo no trabalho.