Gorbatchov critica Putin e pede renovação do sistema político na Rússia
O ex-líder soviético foi Nobel da Paz mas na Rússia é sobretudo lembrado pelo caos e a perda de poder de compra que se seguiu ao fim da União Soviética. Este fim-de-semana disse não estar bem de saúde.
Foi desde essa data que o panorama se agravou com as leis que restringem a liberdade cívica e da imprensa, dissera já há um mês o ex-Presidente de 82 anos numa entrevista à BBC, quando aconselhou Putin a “não ter medo do seu próprio povo” perante o que disse serem os ataques contínuos “aos direitos dos cidadãos”.
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Foi desde essa data que o panorama se agravou com as leis que restringem a liberdade cívica e da imprensa, dissera já há um mês o ex-Presidente de 82 anos numa entrevista à BBC, quando aconselhou Putin a “não ter medo do seu próprio povo” perante o que disse serem os ataques contínuos “aos direitos dos cidadãos”.
Desta vez, não chegou a proferir a maior acusação contida na versão escrita do seu discurso, nota o New York Times: que Putin enveredou por “um caminho ruinoso e sem esperança” quando na entrevista de Março, Gorbatchov dissera que “se as coisas não mudarem, a Rússia continuará à deriva como um pedaço de gelo no Árctico”. Mas proferiu outras.
No discurso deste fim-de-semana, que motivou rápidas reacções do Kremlim, o ex-Presidente da União Soviética declarou que “todos os poderes estavam nas mãos do Executivo” cabendo ao Parlamento apenas o papel de “selar as decisões”; disse ainda que o poder judicial não era independente e lamentou que a economia “monopolizada” esteja apenas direccionada para o gás e o petróleo não abrindo oportunidades aos empresários de pequena e média dimensão. No fim, invocou a perestroika e apelou a uma renovação do sistema político da Rússia, escreve o New York Times.
A resposta não tardou e chegou directamente do Kremlin ou do Rússia Unida, partido do Presidente Putin. “Já tivemos reformas suficientes”, disse o porta-voz Dmitri S. Peskov, enquanto Sergei Neverov do Rússia Unida defendeu as políticas presidenciais como capazes de “preservarem o Estado, resolverem o problema da pobreza e impedirem que criminosos chegassem ao poder”.
Corrupção e disparidades
Gorbatchov reconheceu que o Governo de Putin conseguiu conter a vaga de protestos no país mas os problemas mantêm-se. Como a corrupção crescente que, segundo ele, atingiu “uma dimensão colossal” e o fosso cada vez maior entre ricos e pobres que diz ter alcançado um “nível inaceitável”.
Longe vai o tempo em que manifestava publicamente apoio às políticas de Putin a quem atribuía o mérito de manter a estabilidade interna do país e projectar dele uma imagem forte para o exterior, mesmo se em privado, já em 2006, quando investiu na imprensa da oposição, pressentia com receio mais barreiras ao pluralismo político e à liberdade de imprensa.
Na Rússia, o seu contributo para o fim da Guerra Fria ficou ofuscado pelo caos e perda de poder de compra que se seguiu ao fim da União Soviética. Gorbatchov reconheceu este fim-de-semana não estar bem de saúde. Se o seu estado frágil e aspecto vulnerável pudessem deixar dúvidas, as suas palavras foram claras: “Agora, estou gravemente doente.” Uma forma de dizer para “agora” levarem a sério o que tem para dizer?