Três mil pessoas foram conhecer o novo museu do Rio de Janeiro

O MAR - Museu de Arte do Rio representou um investimento de 30 milhões de euros e terá um orçamento anual de 25 milhões.

Foto
Reuters

Depois da inauguração, no dia 1, com Dilma Rousseff lá dentro e manifestantes à porta (de vários movimentos, um dos quais de actores ligados a uma série de teatros encerrados por alegada falta de condições de segurança), esta semana o MAR – Museu de Arte do Rio teve a sua primeira terça-feira de entrada livre. E recebeu três mil visitantes, segundo a EBC, a Empresa Brasil de Comunicação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Depois da inauguração, no dia 1, com Dilma Rousseff lá dentro e manifestantes à porta (de vários movimentos, um dos quais de actores ligados a uma série de teatros encerrados por alegada falta de condições de segurança), esta semana o MAR – Museu de Arte do Rio teve a sua primeira terça-feira de entrada livre. E recebeu três mil visitantes, segundo a EBC, a Empresa Brasil de Comunicação.

É mais de quatro vezes os visitantes que o MAM, o Museu de Arte Moderna, teve por dia no ano passado nesta cidade de à volta de seis milhões. É também muita gente a pisar a Praça Mauá, no centro degradado, uma das zonas de prostituição da Maravilhosa, junto ao porto.

Precisamente, a recuperação da área onde desembocam as favelas do Morro da Conceição é um dos objectivos de um plano urbanístico mais vasto que, só no MAR, já investiu 30 milhões de euros – os custos da reconversão e transformação de dois edifícios pre-éxistentes: o palacete D. João VI, antiga sede do Departamento Nacional de Portos, de estilo neoclássico, e o corpo modernista contiguo do que foi em tempos um terminal rodoviário mas que está mais presente na memória brasileira como sede da Polícia Política da ditadura (1964-1985).

Pela mão do atelier de arquitectura carioca Bernardes+Jacobsen (de Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes), onde antes estiveram salas de tortura está agora a Escola do Olhar, baptizada pelo artista plástico Vik Muniz, um dos mecenas do projecto.

Nessa área, o museu, que tem como curador principal Paulo Herkenhoff, um dos mais reputados comissários de arte contemporânea do Brasil, espera vir a receber por ano cerca de dois mil professores de escolas públicas, da primária à secundária, para cursos, seminários e palestras. Os seus alunos são o público-alvo de uma instituição apostada na educação como “chave da emancipação do indivíduo e da criação de um espírito crítico”, explicou Herkenhoff ao diário espanhol El País.

Estas salas são quase junto ao chão. Mas, nesta instituição, a visita começa por cima. Primeiro é preciso subir ao terraço coberto pela emblemática pala de 800 toneladas que evoca o mar e serve de fio unificador às duas construções, um total de 8,5 mil metros quadrados ligados apenas por duas passagens translúcidas suspensas. Lá em cima vê-se a Baía de Guanabara. Depois começa-se a descer exposições adentro.

Até Julho, entre as mostras inaugurais estão O Abrigo e o Terreno – Arte e Sociedade no Brasil, sobre as favelas cariocas, e O Rio de Imagens: Uma Paisagem em Construção, com fotografia, pintura, escultura, design e obras documentais de nomes como o paisagista Burle Marx, o surrealista Ismael Nery e a modernista Tarsila do Amaral. Dando sequência ao que foi o plano original do museu, antes da chegada de Herkenhoff – apresentar apenas colecções privadas –, há também uma mostra dedicada à colecção do galerista de origem romena Jean Boghici. Intitulada Vontade Construtiva, a última das exposições inaugurais foca-se nas décadas de 1960 a 1980.

No conjunto destas mostras, pelas salas, as obras de Ismael Nery, Tarsila do Amaral e nomes mais jovens, como Adriana Varejão, cruzam-se com gravuras de Segall, pinturas de Morandi e Kandinzky e as fotografias de narcotraficantes de Walter Carvalho.

Alguns destes trabalhos – é o caso de Adriana Varejão – fazem parte do acervo de já três mil obras do museu, muitas das quais doadas pelos próprios artistas.

Na nota de missão do museu, que terá um orçamento anual de 25 milhões de euros, lê-se que este “pretende promover uma leitura transversal da história da cidade, seu tecido social, sua vida simbólica, conflitos, contradições, desafios e expectativas sociais”.

No próximo ano, ali mesmo na Praça Mauá, a mudança prossegue: quase frente ao MAR, está prevista a inauguração de novo museu – o Museu do Amanhã, assinado pelo arquitecto espanhol Santiago Calatrava (o mesmo da Estação do Oriente, em Lisboa).

O conjunto formará parte do novo Porto Maravilha, que aspira converter-se num pólo de visita obrigatória não só da população local como dos milhões de visitantes que anualmente passam pelo Rio e que terão tendência a aumentar com o Mundial de Futebol previsto para 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois.