E 147 anos depois o Mississípi aboliu a escravatura

Por acaso. Depois de verem o filme Lincoln, dois funcionários de uma universidade foram à procura do que aconteceu após a aprovação da 13.ª Emenda da Constituição e descobriram que havia um asterisco para aquele estado.

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Paul J. Richards/AFP

Como é que agora se volta ao assunto e se descobre que por causa de um erro ou esquecimento a escravatura não tinha sido abolida no Mississípi?

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Como é que agora se volta ao assunto e se descobre que por causa de um erro ou esquecimento a escravatura não tinha sido abolida no Mississípi?

A história começa com dois funcionários de uma universidade a assistirem a Lincoln, um filme de Steven Spielberg sobre o Presidente norte-americano que aboliu a escravatura. Foi em Novembro passado. 

Depois de verem o filme, Ranjan Batra, professor de Neurobiologia e Anatomia da Universidade do Mississípi e Ken Sullivan, um colega que trabalha para o centro de doação de órgãos da mesma instituição, questionaram-se sobre o que teria acontecido depois da aprovação da 13.ª Emenda da Constituição norte-americana, em 1865.

O texto, que viria a ser adoptado em Dezembro desse ano, determinava que "nem a escravatura nem a servidão involuntária, excepto como punição para crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado, devem existir dentro dos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito à sua jurisdição".

Os vários estados – incluindo aqueles que tinham votado contra, como o Mississípi, Delaware, Kentucky e Nova Jérsia – foram ratificando a emenda nos meses e anos que se seguiram. Nova Jérsia fê-lo logo no ano seguinte, o Delaware já depois da viragem do século, em 1901, e o Kentucky muito mais tarde, em 1976.

Quando chegou ao Mississípi, Ranjan Batra encontrou um asterisco com uma nota: “O Mississípi ratificou a emenda em 1995, mas por o estado nunca ter notificado o Arquivo dos EUA a ratificação não é oficial.”

Sullivan achou que não podia ficar de braços cruzados e contactou a Secretaria de Estado a alertar para o problema. No dia 7, veio a resposta do Arquivo Nacional: o Mississípi tinha agora abolido oficialmente a escravatura. O asterisco desapareceu.

Por que é que em 1995 o Arquivo Nacional não foi notificado não se sabe, disse Dick Molpus, secretário de Estado do Mississípi naquela altura, ao Clairon-Ledger, o jornal do Mississípi que contou esta história. Mas "graças a Ken Sullivan ser um bom cidadão e ter trazido isto à luz, o problema pôde ser resolvido".