Governo pode "dar-se ao luxo" de escolher quando quer voltar ao mercado da dívida

Não há problemas de tesouraria urgentes, justifica secretário de Estado da Presidência, que também não revela quando o Governo pretende divulgar os cortes de 4000 milhões de euros - se antes, durante ou depois da vinda da troika.

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Secretário de Estado da Presidência promete que Governo anunciará os cortes na despesa "de foram integrada e não às pinguinhas" Daniel Rocha

Depois de um regresso aos mercados há cerca de um mês, considerado um “sucesso”, o Governo não se sente pressionado para voltar a curto prazo e afirma não ter uma “previsão certa” sobre isso.

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Depois de um regresso aos mercados há cerca de um mês, considerado um “sucesso”, o Governo não se sente pressionado para voltar a curto prazo e afirma não ter uma “previsão certa” sobre isso.

Essa foi a certeza deixada nesta quinta-feira pelo secretário de Estado da Presidência, Luís Marques Guedes: “Fruto da credibilidade e confiança que o Estado português tem vindo a granjear junto do mercado, pode agora dar-se ao luxo de decidir a colocação da dívida no mercado na perspectiva da oportunidade.”

Assim, Portugal pode agora, no entendimento do secretário de Estado, “dar-se ao luxo” de escolher a data, porque “não está pressionado por qualquer urgência incontornável” e “não há problemas de tesouraria”.

“Temos condições para ir acompanhando a evolução dos mercados, do ranking da cotação da dívida pública e escolher os momentos que pareçam mais adequados para ir ao mercado”, vincou Marques Guedes no final da reunião do Conselho de Ministros.

Sem data para a reforma do Estado
O que o Governo também não tem - ou pelo menos não a quer divulgar – é uma previsão sobre quando anunciará as medidas que está a preparar para a denominada "reforma do Estado", e que implicam o corte de 4000 milhões de euros na despesa pública.

Questionado sobre se o anúncio dessas medidas - que têm de estar prontas para o sétimo exame regular da troika que começa dia 25 deste mês - será feito aos portugueses antes, durante ou depois da visita dos técnicos internacionais, o secretário de Estado da Presidência escusou-se a apontar uma data.

Luís Marques Guedes limitou-se a prometer que, “assim que o Governo tiver o trabalho pronto para comunicar ao país, será feita a comunicação de forma integrada e não às pinguinhas”. Foi uma resposta às notícias, que apelidou de “especulações”, que dão conta de que 80% do corte será feito nas áreas do Estado social e os restantes 20% nas funções de soberania.

O secretário de Estado reiterou que o trabalho sobre a reforma do Estado está a ser “desenvolvido pelo Governo há meses”, lembrando que o primeiro-ministro “solicitou a participação e envolvimento não só de toda a sociedade portuguesa, mas também de todas as forças políticas”.

Luís Marques Guedes aproveitou para deixar críticas indirectas ao PS – sem o nomear –, que se recusou a integrar a comissão parlamentar para a reforma do Estado: “Não é por vontade própria do Governo que a situação é o que é. O Governo encontrou o país nesta situação. Isso quer dizer alguma coisa sobre a responsabilidade que esses partidos, que agora criticam, têm em relação ao futuro do país e que alguns deles têm no caminho que nos trouxe até aqui.”

“Há um trabalho para resgatar o país e devolver-lhe a soberania económica”, disse ainda o secretário de Estado, vincando que “a crise não é resultado da austeridade; a austeridade é resultado da crise”.