Confrontos e milhares de pessoas no funeral de político tunisino assassinado

Pelo menos 40 mil pessoas participaram no funeral de Chokri Belaid, segundo números da polícia. Houve manifestações e 132 pessoas foram detidas. País está a meio-gás devido à greve geral convocada pela maior central sindical.

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A filha do líder político assassinado foi transportada por soldados Louafi Larbi/REYTERS

Sem que haja indicações sobre quem matou Belaid, o Ennhada, o partido islamista no poder, vencedor das primeiras eleições democráticas na Tunísia, é acusado deste assassínio pelos manifestantes. Milhares de vozes – 40 mil acompanharam o funeral, segundo a polícia – gritaram “Deus é grande” quando o corpo do dirigente da Frente Popular, a coligação de partidos de esquerda e extrema-esquerda a que pertencia Belaid, foi deposto na terra. A seguir cantou-se o hino nacional, e foi recitada a prece da fatiha, o primeiro versículo do Corão.

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Sem que haja indicações sobre quem matou Belaid, o Ennhada, o partido islamista no poder, vencedor das primeiras eleições democráticas na Tunísia, é acusado deste assassínio pelos manifestantes. Milhares de vozes – 40 mil acompanharam o funeral, segundo a polícia – gritaram “Deus é grande” quando o corpo do dirigente da Frente Popular, a coligação de partidos de esquerda e extrema-esquerda a que pertencia Belaid, foi deposto na terra. A seguir cantou-se o hino nacional, e foi recitada a prece da fatiha, o primeiro versículo do Corão.

Em quarteirões próximos do cemitério, no Sul da capital, Tunes, foram incendiadas viaturas, houve civis agredidos e foram atiradas pedras contra os polícias, que responderam com gás lacrimogéneo, mesmo frente aos portões do cemitério. Na Avenida Bourguiba, no centro da capital, a polícia perseguiu com cassetetes dezenas de jovens manifestantes que gritavam “fora, fora”, tal como na revolução de 2011, que derrubou a ditadura de Ben Ali.

O assassínio de Belaid chocou o país, desencadeando novas manifestações contra o Governo. Incapaz de inverter a crise económica e acusado de querer minar o secularismo, o partido islamista é agora também responsabilizado pela morte do dirigente político.

Apesar da crise, o impasse mantém-se depois de o Ennahda ter desautorizado o primeiro-ministro, Hamadi Jebali (ele próprio um dirigente do partido), que na quarta-feira tentara aplacar a revolta, anunciando a intenção de formar um governo de salvação, sem representantes dos partidos políticos. A oposição acolheu bem a proposta, apesar de insistir que também Jebali deveria demitir-se, mas os islamistas dizem não aceitar um executivo que não seja representativo dos resultados das legislativas.

“Com o nosso sangue e a nossa alma vamos sacrificar-nos por ti”, gritava a multidão logo de manhã, junto à Casa de Cultura de Djebel Jell, bairro no extremo sul de Tunes, onde o caixão de Belaid foi velado.

Na capital, a maioria do comércio está encerrado e os transportes públicos quase paralisados, em resposta ao apelo lançada na véspera pela União Geral Tunisina do Trabalho (UGTT) para uma jornada de paralisação e “luto nacional”. No aeroporto de Tunes-Cartago, o maior do país, foram anulados todos os voos previstos para hoje, tanto domésticos como internacionais – o que acontece primeira vez desde a revolução.

Nos últimos anos, a Tunísia tem sido palco de sucessivas paralisações, mas esta é a primeira greve de dimensão nacional convocada pela UGTT, uma central com enorme capacidade de mobilização e que foi decisiva para a queda do regime de Ben Ali.