Monti impõe agenda para voltar a liderar Itália

Primeiro-ministro demissionário diz-se pronto a chefiar um Governo ou uma plataforma partidária caso haja "apoio dos partidos" à sua agenda.

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Mario Monti na conferência de imprensa de final de ano, em Roma Alessandro Bianchi/Reuters

Monti, que nos últimos meses liderou um Governo tecnocrata, começou por dizer que não entraria em nenhuma lista Às eleições mas depois na fase de perguntasdisse no entanto que estaria “disposto a liderar” um futuro governo caso houvesse “apoio dos partidos à sua agenda”.

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Monti, que nos últimos meses liderou um Governo tecnocrata, começou por dizer que não entraria em nenhuma lista Às eleições mas depois na fase de perguntasdisse no entanto que estaria “disposto a liderar” um futuro governo caso houvesse “apoio dos partidos à sua agenda”.

“Primeiro-ministro? Sim, nas minhas condições”, disse Monti, citado pelo diário italiano Corriere Della Sera.

Mantendo o suspense até ao fim, ninguém tinha arriscado, a poucas horas da conferência de imprensa, especular sobre o que faria o Professor na corrida às eleições previstas para 24 e 25 de Fevereiro. Isto mesmo que ele tivesse dito em entrevista ao diário La Repubblica na véspera que ainda não tinha tomado uma decisão sobre se iria ser candidato, “mas algo me diz que não”.

Na conferência de imprensa desta manhã de domingo  a atenção focou-se, no entanto, no homem que precipitou a crise política. “Com Berlusconi, devemos fazer uma barreira para limitar o refluxo da direita populista”, afirmou Monti.

Pouco antes Berlusconi tinha declarado que se for eleito irá fazer da renegociação do pacto fiscal da União Europeia uma prioridade. Apesar de ter vindo a criticar a politica de austeridade de Monti, Il Cavaliere desafiou-o a liderar uma coligação centrista, que Monti recusou.

Foi a retirada de apoio ao Governo Monti do partido de Berlusconi que precipitou a actual crise política. O antigo primeiro-ministro decidiu também concorrer às eleições, depois de mais de um mês de sinais contraditórios. A decisão de Monti era a última peça para o puzzle eleitoral, uma campanha que “promete ser caótica e confusa até para padrões italianos”, comentava o correspondente em Roma do diário britânico The Guardian.

Segundo as sondagens, se decidisse concorrer numa plataforma de partidos centristas, Monti conseguiria à volta de 15%. A maioria dos italianos não vê com bons olhos a política de aumento de impostos e cortes na despesa do antigo comissário europeu.

Dificuldade em entender Berlusconi
Silvio Berlusconi, pelo seu lado, não aparece nas sondagens com uma percentagem que lhe permita ganhar – esse lugar é ocupado pelo líder do PD, Pier Luigi Bersani (esquerda). Mas o partido de Berlusconi (Povo da Liberdade, PdL) poderá conseguir impedir uma maioria do centro-esquerda, e um resultado inconclusivo poderá acabar até em novas eleições.Uma entrada de Monti na corrida era vista com maus olhos tanto pelo PD como pelo PdL.

Mesmo se obtivesse cerca de 15%, uma aliança liderada por Monti poderia ter força suficiente no Senado para obrigar o PD a fazer um acordo de coligação e aí Monti teria mais poder sobre a agenda económica. O PD prometeu manter os objectivos de redução do défice e manter o curso geral do Governo cessante mas também quer pôr mais ênfase no crescimento.

Na conferência de imprensa deste domingo, Monti defendeu o seu legado, dizendo que a crise está superada, que a Itália não teve de recorrer a empréstimos nem da União Europeia nem do Fundo Monetário Internacional (FMI), e levou a cabo um cerrado ataque a Berlusconi, dizendo que tem dificuldade em “encontrar linearidade no pensamento” do antigo governante.

Mas o que os italianos esperavam era um “sim” ou “não” de Monti, dizia Roberto D’Alimnte, professor de política na universidade LUISS em Roma. “O país precisa realmente de uma resposta clara de Monti.”

Uma resposta clara que afinal não chegou.  A campanha continua... confusa.

Notícia actualizada às 14h30: para reflectir os esclarecimentos de Monti em relação a uma possível candidatura