Inventada uma impressora 3D de… cartilagens artificias

A impressora 3D híbrida poderia permitir um dia criar cartilagens implantáveis è medida de cada paciente

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A prática desportiva pode acarretar lesões da cartilagem do joelho Yves Herman/Reuters

Uma vulgar impressora de jacto de tinta e uma máquina de electro-fiação – que, graças à aplicação de uma corrente eléctrica, produz finíssimas fibras de matéria plástica – foram suficientes para criar estruturas artificiais capazes de se integrar no organismo de ratinhos e ali dar origem, passadas umas semanas, a um material semelhante à cartilagem natural das articulações.

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Uma vulgar impressora de jacto de tinta e uma máquina de electro-fiação – que, graças à aplicação de uma corrente eléctrica, produz finíssimas fibras de matéria plástica – foram suficientes para criar estruturas artificiais capazes de se integrar no organismo de ratinhos e ali dar origem, passadas umas semanas, a um material semelhante à cartilagem natural das articulações.

A impressora 3D “híbrida”, desenvolvida pela equipa de James Yoo, do Instituto de Medicina Regenerativa de Wake Forest, EUA, e cuja descrição acaba de ser publicada na revista Biofabrication, poderia permitir um dia criar cartilagens implantáveis à medida de cada paciente.

Actualmente, para reconstituir a cartilagem dos ossos, em especial nas lesões decorrentes da prática desportiva, recorre-se a uma técnica cirúrgica, dita de microfracturas, que consiste em fazer pequenos furos no osso subjacente à cartilagem danificada.

A microfractura, ao sangrar, provoca a formação de um coágulo de sangue, que por sua vez leva a libertação de células capazes de reconstituir a cartilagem. Porém, esta operação não funciona muito bem em doentes mais idosos ou obesos e também não é aplicável quando as lesões são demasiado extensas.

A orelha de um coelho

Yoo e colegas criaram camadas de fibras de um polímero sintético, produzido por electro-fiação, e nessas camadas foram depositando, com a ajuda de uma  impressora de jacto de tinta convencional, uma solução de células de cartilagem extraídas da orelha de um coelho. Obtiveram assim “tapetes” flexíveis de um material híbrido, cada um com 10 centímetros de diagonal e 0,4 milímetros de espessura.

A seguir, testaram a resistência do material carregando-o com uma série de pesos. E constataram, após uma semana, que as células de cartilagem continuavam vivas.

Por fim, inseriram os quadrados de material debaixo da pele de ratinhos e puderam observar que, passadas oito semanas, o material artificial tinha desenvolvido a estrutura e as propriedades típicas da cartilagem natural.

“Este estudo prova que, em princípio, seria possível combinar materiais e métodos de fabrico para gerar estruturas implantáveis e duráveis”, diz Yoo em comunicado.

Richard Weiler, especialista de medicina desportiva do University College de Londres citado pela BBC News, diz porém que “já houve muitas tecnologias de substituição de cartilagem que funcionaram nos animais mas que não cumpriram as suas promessas quando utilizadas nos seres humanos a longo prazo”.

Seja como for, a se confirmarem os resultados iniciais positivos deste estudo, os inventores da nova impressora 3D pensam que poderá ser possível criar um dia, a partir de imagens de ressonância magnética de uma articulação lesionada, um modelo personalizado da articulação para, a seguir, imprimir uma cartilagem que se adapte perfeitamente à anatomia do doente.