Os GY!BE renovaram a fé dos crentes na sua música que continua a não ter paralelo

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Os Godspeed vão além de qualquer fórmula Paulo Pimenta

Há um padrão de baixo, repetitivo, a encher a sala maior do Hard Club. Fora dela, uma fila de pessoas que aguardam, com não disfarçado nervosismo, que as portas se abram. Passam-se alguns minutos até que a sala se enche totalmente. Ao baixo insistente, juntam-se remoinhos de cordas, duas baterias a cavalgar a muralha, guitarras num estrépito: eis os Godspeed You! Black Emperor (GY!BE) em Portugal, nove anos depois da última passagem.

Os canadianos encerraram o festival Amplifest, que, entre sexta-feira e domingo, levou ao Porto nomes relevantes do rock aventureiro actual. No domingo, os Oxbow, reduzidos a um duo, mostraram como os blues são a raiz da sua música - e Eugene Robinson, apaixonante performer, revelou-se um bluesman de porte atlético, perturbante. No sábado, os Six Organs of Admittance exibiram em palco a transformação em combo rock processada no último álbum, Ascent.

Mas o Amplifest era dos GY!BE. Regressam com estatuto de consagrados aos palcos e aos discos, depois de dez anos sem editar. E no Hard Club apresentaram-se em modo clássico, renovando a fé dos crentes na sua música instrumental que continua a não ter paralelo. Depois de uma introdução em que juntaram novos instrumentos ao vendaval eléctrico, os oito membros (três guitarras, dois baixistas, um deles por vezes a assumir o papel de contrabaixista, duas baterias, uma violinista) lançaram-se a Mladic, do novo disco, "Allelujah! Don"t Bend! Ascend!. Nos seus vinte minutos, Mladic põe os GY!BE a conjurar um demoníaco instrumental com influências do Médio Oriente. No final, é um lamento com o violino à solta no meio do caos apocalíptico.

Mostraram Behemoth, monstro épico nunca editado, a exibir, de novo, influências do Médio Oriente, cruzadas com um irresistível apelo rock. Foram a Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven (2000) buscar Sleep. Ouvimos um velho ("They don"t sleep anymore at the beach") e toda a tristeza do mundo está naquele discurso de glórias passadas feitas em pó, naquela guitarra que carpe lentamente, no violino que dilacera, na percussão que vai entrando, naquelas imagens projectadas de cenários desertos, páginas de livros, cemitérios. Depois, a receita clássica dos Godspeed: um crescendo de intensidade que explode em correrias de percussão e barulho extático. Mas os Godspeed vão além de qualquer fórmula.

Voltaram para um encore, com The Sad Mafioso, oriunda do espantoso disco, F# A#8, de 1997, mas a recompensa ao público fiel foi sabotada por problemas técnicos numa guitarra. Um a um, os membros do grupo foram saindo, deixando a secção de cordas quase sozinha, num improviso. Lentamente, tal como tinha aparecido, a beleza foi deixando o palco.

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Há um padrão de baixo, repetitivo, a encher a sala maior do Hard Club. Fora dela, uma fila de pessoas que aguardam, com não disfarçado nervosismo, que as portas se abram. Passam-se alguns minutos até que a sala se enche totalmente. Ao baixo insistente, juntam-se remoinhos de cordas, duas baterias a cavalgar a muralha, guitarras num estrépito: eis os Godspeed You! Black Emperor (GY!BE) em Portugal, nove anos depois da última passagem.

Os canadianos encerraram o festival Amplifest, que, entre sexta-feira e domingo, levou ao Porto nomes relevantes do rock aventureiro actual. No domingo, os Oxbow, reduzidos a um duo, mostraram como os blues são a raiz da sua música - e Eugene Robinson, apaixonante performer, revelou-se um bluesman de porte atlético, perturbante. No sábado, os Six Organs of Admittance exibiram em palco a transformação em combo rock processada no último álbum, Ascent.

Mas o Amplifest era dos GY!BE. Regressam com estatuto de consagrados aos palcos e aos discos, depois de dez anos sem editar. E no Hard Club apresentaram-se em modo clássico, renovando a fé dos crentes na sua música instrumental que continua a não ter paralelo. Depois de uma introdução em que juntaram novos instrumentos ao vendaval eléctrico, os oito membros (três guitarras, dois baixistas, um deles por vezes a assumir o papel de contrabaixista, duas baterias, uma violinista) lançaram-se a Mladic, do novo disco, "Allelujah! Don"t Bend! Ascend!. Nos seus vinte minutos, Mladic põe os GY!BE a conjurar um demoníaco instrumental com influências do Médio Oriente. No final, é um lamento com o violino à solta no meio do caos apocalíptico.

Mostraram Behemoth, monstro épico nunca editado, a exibir, de novo, influências do Médio Oriente, cruzadas com um irresistível apelo rock. Foram a Lift Your Skinny Fists Like Antennas To Heaven (2000) buscar Sleep. Ouvimos um velho ("They don"t sleep anymore at the beach") e toda a tristeza do mundo está naquele discurso de glórias passadas feitas em pó, naquela guitarra que carpe lentamente, no violino que dilacera, na percussão que vai entrando, naquelas imagens projectadas de cenários desertos, páginas de livros, cemitérios. Depois, a receita clássica dos Godspeed: um crescendo de intensidade que explode em correrias de percussão e barulho extático. Mas os Godspeed vão além de qualquer fórmula.

Voltaram para um encore, com The Sad Mafioso, oriunda do espantoso disco, F# A#8, de 1997, mas a recompensa ao público fiel foi sabotada por problemas técnicos numa guitarra. Um a um, os membros do grupo foram saindo, deixando a secção de cordas quase sozinha, num improviso. Lentamente, tal como tinha aparecido, a beleza foi deixando o palco.