Portugal não acompanha os jovens licenciados, conclui estudo europeu

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Muitas instituições já acompanham os alunos depois destes concluírem cursos

Em Portugal "não existe uma política nacional de rastreamento de estudantes" que permita perceber a forma como os jovens entram no mercado de trabalho depois de diplomados. A conclusão é de um estudo da Associação Europeia das Universidades (AEU) que aponta fragilidades à forma como o Governo tem feito a recolha destes dados. O acompanhamento dos licenciados no acesso ao emprego tem sido feito pelas universidades por sua iniciativa.

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Em Portugal "não existe uma política nacional de rastreamento de estudantes" que permita perceber a forma como os jovens entram no mercado de trabalho depois de diplomados. A conclusão é de um estudo da Associação Europeia das Universidades (AEU) que aponta fragilidades à forma como o Governo tem feito a recolha destes dados. O acompanhamento dos licenciados no acesso ao emprego tem sido feito pelas universidades por sua iniciativa.

Apesar de o relatório TrackIt concluir que "o rastreamento de graduados a nível nacional é comum nos países europeus", Portugal surge no grupo de países onde o acompanhamento é feito de forma "esporádica", juntamente com outros 13 sistemas de ensino, onde se incluem a Áustria, a Bélgica e a Espanha. Dos 32 sistemas avaliados, 26 recolhem dados sobre a entrada dos diplomados no mercado de trabalho, mas apenas 12 o fazem frequentemente, tipicamente em intervalos entre um e três anos.

Em Portugal "não existe um sistema nacional de rastreamento para os graduados", aponta o documento. Os dados que o Ministério da Educação e Ciência (MEC) possui sobre o número de diplomados desempregados têm base em informações do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), um sistema que a AEU considera que "tem muitos pontos fracos". "O mais grave é que ele não fornece nenhuma informação sobre os diplomados empregados, além de que nem todos os licenciados desempregados se registam no IEFP", lê-se no relatório. De acordo com o mesmo documento, a ausência de um acompanhamento dos alunos após a graduação explica-se pelo facto de o desemprego de licenciados não ter sido considerado "um problema sério" até aos últimos anos.

O relatório TrackIt, que foi publicado pela primeira vez este ano, reconhece o "esforço significativo" das instituições de ensino superior, que têm lançado várias iniciativas nesta área. Os responsáveis da AEU esperam que a acção das universidades e politécnicos intensifique a recolha de dados sobre empregabilidade, nomeadamente quanto à percentagem de diplomados empregados num determinado período após a graduação.

Observatório do emprego

A recolha de dados sobre o emprego dos seus diplomados é feita pela generalidade das universidades nacionais. A forma de chegar à informação é que é divergente. A Universidade do Porto foi uma das primeiras a criarem um observatório de emprego e faz um inquérito anual aos diplomados um ano e meio após a conclusão do curso. Isto acontece desde 2005, mas no ano passado foi a primeira instituição a fazer um estudo de empregabilidade a longo prazo, analisando os comportamentos dos licenciados no ano lectivo 2004/2005, que já têm mais de cinco anos de trajecto profissional. O documento mostra uma taxa de emprego dos diplomados de 84%. Entre os licenciados daquela instituição, mais de 7% prosseguem os seus estudos e apenas 6% estão desempregados.

Os dados são depois entregues às direcções dos diversos cursos, para que estes possam fazer "eventuais ajustamentos aos seus planos de estudos", conta a vice-reitora Maria de Lurdes Fernandes. A responsável aponta outra mais-valia a este género de informações, uma vez que permite às instituições terem uma "melhor consciência" sobre a forma como estão a evoluir os seus diplomados.

A vice-reitora do Porto entende que a criação de um sistema nacional de recolha de dados sobre os recém-licenciados seria a situação "ideal" até porque permitiria fazer estudos comparativos a nível nacional. No entanto, adverte, seria necessário garantir que se respeitam "pressupostos metodológicos e científicos que tornem estes estudos credíveis", o que garante acontecer no caso da UP.

O estudo da AEU é o primeiro do género feito a nível europeu e traça um retrato do rastreamento dos diplomados em 31 países, com o objectivo de fornecer informação sobre os métodos de acompanhamento dos progressos dos estudantes, quer a nível nacional quer dentro das instituições.

"Quando a Europa procura aumentar a participação no ensino superior tornou-se cada vez mais importante para as universidades monitorizar o progresso e sucesso das diversas populações estudantis e a entrada dos graduados no mercado de trabalho", explica o secretário-geral da associação, Lesley Wilson, para quem a publicação do relatório quer chamar a atenção sobre um assunto que "merece mais atenção nos debates nacionais e europeu".

O relatório, encomendado pela AEU a um consórcio de universidades, aponta para um "aumento" das iniciativas de rastreamento a nível europeu. "Há um interesse crescente no rastreamento e crescentes iniciativas tanto a nível nacional como institucional", conclui o documento que aponta um conjunto de factores que justificam este facto: um ensino mais centrado nos estudantes, o aumento das preocupações com a empregabilidades dos jovens licenciados e o crescimento das possibilidades técnicas para a recolha e gestão de dados.

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério não comenta as conclusões deste relatório.