Morreu Carlo Maria Martini, o papabile que queria uma Igreja mais aberta

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Carlo Maria Martini era biblista destacado e autor de dezenas de livros

Martini, que defendia uma Igreja mais aberta e compreensiva com o mundo contemporâneo, é autor de dezenas de livros e textos, traduzidos em muitas línguas (vários em português). Um deles, Em Que Crê Quem Não Crê (ed. Gráfica de Coimbra), é um diálogo com o filósofo Umberto Eco.

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Martini, que defendia uma Igreja mais aberta e compreensiva com o mundo contemporâneo, é autor de dezenas de livros e textos, traduzidos em muitas línguas (vários em português). Um deles, Em Que Crê Quem Não Crê (ed. Gráfica de Coimbra), é um diálogo com o filósofo Umberto Eco.

Apesar de criticar várias posições da Igreja, Martini era muito respeitado na instituição católica. A sua inteligência e a subtileza com que manifestava as suas posições não seriam estranhas a esse facto. Quer João Paulo II, que o nomeou para Milão em 1980, quer o actual Papa, com quem se encontrou em Junho, sempre confessaram a sua admiração pelo cardeal.

O cardeal criticara, por exemplo, aspectos do texto da encíclica Humanae Vitae, sobre a regulação dos nascimentos, na qual se fixa a ideia de que a Igreja não admite o preservativo. Esse documento, de Julho de 1968, levara ao "afastamento de muitas pessoas", dizia Martini.

No seu último livro, sobre a figura do bispo, o cardeal diz que aquele deve ser antes de mais "íntegro, honesto, leal, capaz de não mentir nunca, paciente, misericordioso, pronto a oferecer esperança a quem sofre, mas, acima de tudo, um homem verdadeiro, capaz de ouvir a todos, mesmo não crentes, separados, divorciados e homossexuais".

Nascido em Turim, em 1927, Carlo Martini era jesuíta. Biblista de formação, foi designado arcebispo de Milão, a maior diocese da Europa, onde esteve de 1980 a 2002 e onde incentivou o diálogo com não-crentes e de acolhimento de homossexuais.