Caçadores salvam bufo real preso na rede da vedação de uma coutada

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O animal ficou preso nas malhas da rede de vedação de uma coutada da serra do Caldeirão Nuno Ferreira Santos

Um bufo real, ave de rapina tida como adversária dos caçadores por lhes disputar a caça, foi salvo pela Associação de Caçadores de Querença. O animal, jovem, ficou preso nas malhas da rede de vedação de uma coutada da serra do Caldeirão quando procurava petisco para o pequeno-almoço.

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Um bufo real, ave de rapina tida como adversária dos caçadores por lhes disputar a caça, foi salvo pela Associação de Caçadores de Querença. O animal, jovem, ficou preso nas malhas da rede de vedação de uma coutada da serra do Caldeirão quando procurava petisco para o pequeno-almoço.

O bufo ficou retido na cerca de uma criação de coelhos, gerida pela associação de caçadores, destinados a alimentar a águia de Bonelli - espécie com estatuto de conservação prioritária. Trata-se de um projecto que está a ser acompanhado por investigadores da Universidade de Évora, ao abrigo de um protocolo com a Rede Eléctrica Nacional, no âmbito das medidas de compensação pela passagem no local de linhas de alta tensão.

A ave, libertada anteontem à noite, abriu muito os olhos castanhos, bateu as asas e pousou numa velha alfarrobeira, próxima da rocha dos Corvos, no Vale da Benémola, sitio integrado em área de paisagem protegida. "Os caçadores, geralmente, não gostam desta espécie de predadores, por causa da caça que eles comem. Neste caso é de louvar a atitude", ressalvou João Ministro, ambientalista, ligado à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).

O presidente da Associação de Caçadores de Querença, Sérgio Guerreiro, que encontrou o bufo em agonia, tratou-o "com mil cuidados" e alertou as autoridades. A libertação só ocorreu depois da confirmação de que a ave se encontra de boa saúde e de ser anilhada. Ao cair do sol, a ave fez-se à montanha, mas ao longe, na outra margem da ribeira, ficou a olhar para o grupo que a viu partir. "Só tinha visto, há alguns anos, um bufo que morreu electrocutado num posto de electricidade", adiantou Guerreiro.

Quando chegou o momento de saltar da caixa de cartão, onde esteve um dia, o animal parecia atarantado. "Quem o liberta é quem o salvou", disse João Ministro. "É bonito, o gajo", comentou o caçador. "Por que será que ele olha tanto para mim?", perguntou Sérgio Guerreiro, enquanto a ave emitia um som agudo. "Está a procurar intimidar", explicou o ambientalista, acrescentando que o bufo está no topo da hierarquia dos predadores do Vale da Benémola, e nidifica na zona rochosa onde nasce o principal aquífero do Algarve (Querença-Silves). "Será que ele ainda vai permanecer muito mais tempo pousado na alfarrobeira?", questionou João Marum, arquitecto paisagista. Já senhor do seu próprio destino, o bufo ficou à espera uns bons dez minutos, a mirar ao longe o disparar das máquinas fotográficas.