Custos unitários do trabalho baixam mas estão 10% acima da média da zona euro

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Passos Coelho garante que não está a preparar uma baixa de salários Foto: Pedro Maia

O índice cambial efectivo deflacionado pelos custos unitários do trabalho, através do qual é possível comparar dados entre os países da zona euro para medir o rácio entre as remunerações por trabalhador e a produtividade, caiu em Portugal para 101,8 pontos no final do primeiro trimestre.

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O índice cambial efectivo deflacionado pelos custos unitários do trabalho, através do qual é possível comparar dados entre os países da zona euro para medir o rácio entre as remunerações por trabalhador e a produtividade, caiu em Portugal para 101,8 pontos no final do primeiro trimestre.

Desde final de 2009, registou-se uma queda acumulada de 5,6%, enquanto no conjunto dos países da moeda única o recuo foi de 12,8%.

Os custos unitários de trabalho representam aquilo que cada empresa gasta por cada funcionário, tendo como componente principal o salário do trabalhador. O índice corresponde a um custo de produção relativo dos produtores nacionais por comparação aos produtores dos principais países parceiros nas trocas internacionais.

A diminuição do índice em Portugal significa que os produtores nacionais, ao beneficiarem de uma queda nos custos do trabalho, ganham competitividade em relação aos parceiros.

Porém, o facto de também a zona euro estar a reduzir os custos do trabalho – com um recuo bastante superior – faz com que o ajustamento em Portugal produza menos efeito. Mesmo com Bruxelas a prever que os cortes salariais e o aumento do desemprego para níveis recorde levem, este ano, à maior queda dos custos unitários do trabalho em Portugal desde 1962.

A diferença entre os custos unitários do trabalho entre Portugal e a média da zona euro aumentou entre 2009 e os primeiros meses deste ano. Nessa altura, os custos eram 2,6% mais baixos na área do euro, enquanto a diferença é agora de 10%.

O Governo já abordou a questão da redução dos custos do trabalho e de baixa salarial a duas vozes, com o primeiro-ministro a garantir que não está a preparar qualquer diminuição de salários e o ministro das Finanças a falar numa inevitabilidade de corte dos custos unitários do trabalho.

As declarações recentes de António Borges, consultor do Governo na área das privatizações, defendendo que diminuir salários “não é uma política”, mas “uma urgência” – depois corrigidas pelo próprio – obrigaram o executivo a reagir.

Pedro Passos Coelho garantiu no início de Junho não ser sua política “apostar em nenhuma desvalorização adicional dos salários portugueses”. No mesmo dia, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, embora defendendo que a visão do executivo para a economia não se baseia em “em níveis baixos de produto, produtividade e salários”, afirmou que os ganhos de competitividade terão de ser conseguidos através de “algum dos componentes [dos custos unitários de trabalho]”.

António Borges veio mais tarde retomar a questão que abordara numa entrevista ao Etv, afirmando que aquilo que lhe fora atribuído não fazia sentido e que “ninguém pode ser a favor de um país de gente pobre”.

Entretanto, o BCE veio defender para Portugal e os outros países sob intervenção externa uma redução salarial como estratégia para os países em dificuldades ganharem competitividade. A recomendação foi imediatamente criticada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que alertou para o efeito negativo que a medida produziria no mercado de trabalho e na economia, porque poderia agravar a actividade económica ainda mais num período de crise.