“É bom ter razão”, diz Peter Higgs

Foto
Peter Higgs é tão recatado como o bosão a que deu o nome David Moir/Reuters

Na conferência de imprensa, perguntaram-lhe o que sentia por ter razão. “Às vezes, é muito bom ter razão… Foi, certamente, uma espera longa”, respondeu o britânico de 83 anos, citado pela agência AFP.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na conferência de imprensa, perguntaram-lhe o que sentia por ter razão. “Às vezes, é muito bom ter razão… Foi, certamente, uma espera longa”, respondeu o britânico de 83 anos, citado pela agência AFP.

Foi há quase 50 anos que Higgs e outros cinco cientistas propuseram a existência desta partícula. Em 1964, o físico, que trabalhava na Universidade de Edimburgo, publicou dois artigos que defendiam a existência daquilo que viria a ser conhecido por bosão de Higgs, a partícula das partículas, que dá massa às outras partículas e faz com que o Universo seja como nós o conhecemos.

O britânico não foi o único a chegar a essa conclusão. Semanas antes, Robert Brout (falecido em 2011) e François Englert, dois físicos belgas, publicaram um artigo a propor este bosão utilizando outro raciocínio. No final de 1964, os norte-americanos Tom Kibble, Gerald Guralnik e Carl Richard Hagen também escreveram um artigo a defender o mesmo.

Só agora, depois do grande acelerador de partículas LHC ter sido inaugurado em 2008, é que foi possível comprovar a sua existência, ao fazerem-se colidir, com muita energia, dois feixes de protões. Nos próximos meses, os físicos do CERN irão tentar compreender melhor as características da partícula descoberta, para confirmar se o bosão é, de facto, o “bosão de Higgs”. Qualquer que seja o resultado, abriu-se a porta a uma nova física, que está a estimular tanto os físicos teóricos como os experimentalistas.

Mas, na quarta-feira, logo após o anúncio da descoberta em Genebra, a comunidade científica foi assaltada pelos jornalistas com a questão: “E agora, o Nobel da Física vai finalmente para Peter Higgs?” O igualmente famoso físico britânico Stephen Hawking disse logo que Higgs merecia o galardão máximo da ciência. Mas, um dos problemas, é que a Real Academia das Ciências Sueca só dá o Nobel a três pessoas e neste caso, existem cinco físicos vivos elegíveis.

Na conferência em Edimburgo, Higgs fez ricochete à questão do Nobel: “Não sei, não tenho amigos no comité do Nobel”, disse, acrescentando que a questão de haver cinco físicos para três lugares era um problema que a academia sueca teria de resolver se estivesse interessada nisso.

Sobre a sua carreira, o britânico disse ainda que deixou de contribuir para o avanço da física teórica desde os meados da década de 1980 por ser demasiado velho. “Não podia, com aquela idade, adquirir o conhecimento novo de matemática que era necessário para dar uma contribuição, por isso parei.”

No futuro, disse o cientista aos jornalistas, vai continuar a viver a sua reforma. “O único problema, acho, é que vou ter de evitar a comunicação social”, atirou, bem-disposto. Tal como o bosão a que deu o nome, Higgs é conhecido por ser recatado.