E, de repente, a lista de um comediante tornou-se no segundo partido de Itália

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Beppe Grillo Foto: Alessia Pierdomenico/Reuters

Beppe Grillo pode não ser mais do que um "megafone", mas a sua voz não voltará a ser ignorada. O seu Movimento 5 Estrelas conquistou quatro câmaras nas eleições municipais italianas, incluindo Parma, cidade de 200 mil habitantes que é a segunda maior da região de Emilia-Romagna. E, segundo uma sondagem divulgada ontem, se as legislativas se realizassem esta semana, as listas populares de Grillo teriam 18,5% dos votos, mais do que o Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, com 17,2%.

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Beppe Grillo pode não ser mais do que um "megafone", mas a sua voz não voltará a ser ignorada. O seu Movimento 5 Estrelas conquistou quatro câmaras nas eleições municipais italianas, incluindo Parma, cidade de 200 mil habitantes que é a segunda maior da região de Emilia-Romagna. E, segundo uma sondagem divulgada ontem, se as legislativas se realizassem esta semana, as listas populares de Grillo teriam 18,5% dos votos, mais do que o Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi, com 17,2%.

"Obrigado a todos, conquistámos Estalinegrado [Parma], agora vamos a caminho de Berlim!", exclamou o comediante tornado político numa conversa com apoiantes no Skype. À decisiva derrota sofrida por Hitler durante a Segunda Guerra seguiu-se Berlim. Para o 5 Estrelas, Berlim serão as legislativas do próximo ano.

Grillo não vai à televisão – nem permite que os membros das suas listas o façam –, defende a democracia directa e sonha com "cidadãos que se elegem entre si" através do seu movimento, "um instrumento ao serviço dos cidadãos para lhes permitir administrarem-se a si próprios".

A exemplo do que fazem movimentos como os indignados espanhóis, prefere as redes sociais para passar a sua mensagem. Há anos que tem um blogue, hoje o mais lido de Itália. Mas também enche praças. Aliás, foi assim que se tornou incómodo, em 2007, organizando manifestações contra a classe política.

Em 2009, o comediante nascido em Génova quis concorrer à liderança do Partido Democrático, decidida em primárias abertas. A principal formação do centro-esquerda (de acordo com a sondagem do instituto Ipsos, o PD tem agora 27,7% das intenções de voto) fechou-lhe a porta e chamou-lhe "invasor", sublinhando que o partido era "uma coisa séria". O jornal La Stampa descreveu o impacto do anúncio de Grillo como "um terramoto".

Com as municipais, cuja segunda volta terminou na segunda-feira, e com a sondagem do Ipsos, conhecida ontem, Grillo reedita o efeito "terramoto". Agora, as ondas de choque fazem-se sentir à direita, mas na verdade atingem toda a classe política e o conjunto do sistema partidário.

No PdL, que antes do golpe da sondagem já estava em alvoroço por ter perdido vários municípios, o ambiente era ontem de pré-revolução, com muitos dirigentes a pedirem a cabeça do actual coordenador, Sandro Bondi, que pediu a sua demissão. Berlusconi, que ainda dirige o partido, recusou o pedido, soube-se no final de uma reunião do estado-maior do PdL.

À direita, o descalabro estende-se à Liga Norte (direita xenófoba), ex-aliada de Berlusconi, que surge na sondagem do Ipsos com 4,6%, menos de metade do que tinha antes da demissão de Umberto Bossi, o seu líder, envolvido num escândalo de financiamento ilegal.

Um dos factos das municipais foi a participação de 50%, muito mais baixa do que o habitual. A partir de agora, diz James Walston, politólogo da Universidade Americana de Roma citado pela Reuters, resta aos partidos tradicionais tentarem "reinventar-se" para travar Grillo.

A nova política

O comediante despenteado é um provocador, diz querer tirar a Itália do euro e chama "Rigor Montis" (rigor mortis) a Mario Monti, o ex-comissário europeu que assumiu a chefia do Governo com a saída de Berlusconi, em Novembro. As suas listas juntam desempregados, estudantes ou professores. Gente normal com vontade de fazer política de outra forma. Gente jovem. A média de idades dos candidatos é de 38,5 anos, para 59 nos partidos tradicionais. A Itália tem os políticos mais velhos da Europa.

"Não somos antipolítica. Agora somos a nova política", disse Federico Pizzarotti, o informático de 39 anos que conquistou Parma (60,2%) com um orçamento de 6000 euros. "Beppe Grillo é o nosso megafone. Os cidadãos elegeram-me a mim, certamente não elegeram Grillo."