Caravela Boa Esperança, "encalhada" na marina de Lagos, vai ser posta à venda

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Caravela está parada há dois anos na marina de Lagos Melanie Map's

"Este ano, vamos sofrer mais um corte no orçamento de 30 por cento, cerca de 1,2 milhões de euros. Não há dinheiro", justifica António Pina. A embarcação, que participou nos 500 anos da Descoberta do Brasil, foi adquirida há 12 anos, para funcionar como âncora da candidatura de Sagres a património da UNESCO.

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"Este ano, vamos sofrer mais um corte no orçamento de 30 por cento, cerca de 1,2 milhões de euros. Não há dinheiro", justifica António Pina. A embarcação, que participou nos 500 anos da Descoberta do Brasil, foi adquirida há 12 anos, para funcionar como âncora da candidatura de Sagres a património da UNESCO.

O objectivo, conta o antigo presidente do Turismo do Algarve, Paulo Neves, era inscrever o "Algarve na rota dos itinerários culturais, ligados a Sagres, património da Humanidade". Mas nem a candidatura avançou, nem a Boa Esperança cativou investidores privados para passeios turísticos.

António Pina considera que a utilização da caravela só para promoção "já não faz sentido", embora salvaguarde o "valor histórico" que, simbolicamente, representa num país de marinheiros. A aquisição, em 2000, pelo Turismo do Algarve, explica Paulo Neves, ficou-se pelos 75 mil euros, com a ajuda de fundos comunitários. "Agora, a manutenção ronda os 100 a 150 mil euros por ano", contrapõe António Pina.

O comandante da Boa Esperança , José Gravata, lamenta o ponto a que se chegou: "Foram tantas e tantas as promessas, mas faltou o dinamismo das entidades para dar novos rumos à embarcação". A última viagem que fez, há dois anos, não passou da costa algarvia. "Só para desenferrujar o motor", observa. A navegação à vela envolve 20 tripulantes. A alternativa passa por um motor de 180cv - "Fraco para puxar 140 toneladas."

O presidente da ERTA avança que já houve um potencial comprador: "Ofereceu 60 mil euros", para efectuar viagens turísticas. A caravela é divulgada com fins pedagógicos nas escolas. A Câmara de Lagos tem sido o único parceiro para manter a embarcação à tona de água. Um contrato por quatro anos, que termina em 2012, atribuiu um subsídio anual de 100 mil euros. Só que as dificuldades da autarquia reduziram o apoio para metade.

O lançamento do concurso público, adianta António Pina, depende da "análise dos compromissos assumidos, no âmbito de um programa transfronteiriço" em que a Boa Esperança devia participar, com outras embarcações históricas, numa rota que liga Algarve, Lisboa e Sevilha.

A caravela tem um custo fixo com duas pessoas que zelam pela manutenção. O comandante recebe um subsídio quando navega. "Mas há dois anos que não recebo, porque a caravela está parada", comenta, embora todas as semanas se desloque de Faro a Lagos. "Estou nisto por gosto, bem como os voluntários que constituem a tripulação", observa José Gravata. "A câmara e o Centro de Ciência Viva de Lagos é que merecem o nosso reconhecimento", nota o comandante. Fica a crítica implícita ao Turismo de Portugal.