Escritores unem-se em abaixo-assinado contra o fecho da Livraria Camões

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“Isto, por um lado, é cegueira política, por outro lado, é obstinação”, diz Manuel Alegre Daniel Rocha

Segundo o abaixo-assinado, a que o PÚBLICO teve acesso, caso o encerramento da livraria se verifique, os escritores defendem tratar-se de um “acto deplorável do decisor político”.

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Segundo o abaixo-assinado, a que o PÚBLICO teve acesso, caso o encerramento da livraria se verifique, os escritores defendem tratar-se de um “acto deplorável do decisor político”.

O anúncio do encerramento da livraria, que pertence à Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), aconteceu na sexta-feira. Foi feito por José Estrela, gerente da Livraria Camões, que explicou que Estêvão de Moura, presidente da INCM, lhe escreveu a dizer que “face aos acontecimentos em Portugal, e do pouco volume de vendas”, teriam de fechar.

Logo na altura a notícia gerou alguma contestação, tanto no meio literário como político. António José Seguro, secretário-geral do PS, mostrou-se perplexo, e o deputado socialista Jorge Lacão disse estar preocupado com a visão economicista do Governo, garantindo que a “INCM tem condições de gestão financeira equilibrada para dar esse contributo à promoção da cultura portuguesa, particularmente no Brasil”.

Com este abaixo-assinado, cujo primeiro assinante é o escritor e ex-candidato presidencial Manuel Alegre (PS), os escritores querem mostrar o descontentamento e impedir que a livraria encerre definitivamente.

“Desconsiderando uma casa cujos méritos nunca deixaram de ser reconhecidos, designadamente na relação que promove entre os países dos dois lados do Atlântico, atinge-se o valor estratégico que é a difusão da língua e cultura portuguesas, bem como as dimensões simbólicas projectadas pelo poeta celebrado no nosso Dia Nacional, que sempre encontrou no Brasil alguns dos seus estudiosos e cultores maiores”, diz o documento que já conta com assinaturas de nomes como Fernando Pinto do Amaral (comissário do Plano Nacional de Leitura), Inês Pedrosa (escritora e directora da Casa Fernando Pessoa), Isabel Pires de Lima (ex ministra da Cultura) e José Jorge Letria (presidente da Sociedade Portuguesa de Autores).

“Portugal não deve nem pode prescindir de uma das suas armas de afirmação fundamental, a língua de Camões e quanto nela se exprime, para além de juízos conjunturais e da muito duvidosa racionalidade que os incita”, continua o manifesto.

Entre os assinantes estão ainda escritores como Valter Hugo Mãe, Manuel António Pina, Maria Alzira Seixo, Mário Cláudio, Mário de Carvalho, Isabel Ponce de Leão, Jacinto Lucas Pires, Lídia Jorge, Nuno Júdice, Pedro Tamen e Maria Teresa Hora.