Restrições para carros poluentes na Baixa vão afectar um em cada cinco táxis de Lisboa
Os táxis terão mais tempo para se adaptarem, uma vez que essa medida só se aplicará a eles a partir de Janeiro de 2012, mas mesmo assim os profissionais do sector pedem mais tempo e consideram que estas acções ambientais deveriam ter sido preparadas de outra maneira.
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Os táxis terão mais tempo para se adaptarem, uma vez que essa medida só se aplicará a eles a partir de Janeiro de 2012, mas mesmo assim os profissionais do sector pedem mais tempo e consideram que estas acções ambientais deveriam ter sido preparadas de outra maneira.
"Corre-se o risco de introduzir grande confusão na actividade", considera Pedro Lopes, presidente de uma das duas cooperativas de Lisboa, a Rádio Táxis, que tem uma frota de 710 viaturas, das quais 110 deixarão de poder circular na Baixa lisboeta. "O que é que acontece quando um passageiro pedir um serviço [para a Baixa] e o carro disponível for dos mais antigos? E o que dizer aos que começam a viagem noutro ponto da cidade e se dirigem para a Baixa? Vamos deixá-los a meio do caminho e dizer ao cliente que a partir dali tem de apanhar outro transporte?"
Pedro Lopes classifica como uma "hipocrisia" a proposta aprovada anteontem, com os votos contra do PCP e do CDS-PP, entendendo que há alternativas mais eficazes no combate à poluição. Algo que, aliás, o programa de execução do Plano de Melhoria da Qualidade do Ar reconhece, quando coloca as chamadas zonas de emissões reduzidas em 11.º lugar, numa lista de hierarquias e de viabilidade.
Acap duvida do impactoO líder da Rádio Táxis, que trabalha com cerca de 1300 profissionais, lamenta que as entidades representativas do sector não tenham sido sequer consultadas, porque o pacote aprovado pelo executivo de António Costa "terá implicações no conforto dos cidadãos" e na rentabilidade do negócio dos táxis, "que já não está muito bem".
Os operadores com matrículas anteriores a Janeiro de 1993 só terão dois caminhos: ou instalam catalisador ou abatem as viaturas e renovam a frota. Seja como for, serão operações dispendiosas, segundo Pedro Lopes, e difíceis de concretizar em seis meses.
A hipótese de manter a frota como está será impraticável, até porque a câmara irá alargar, de forma gradual, as restrições desenhadas para a Baixa à restante cidade de Lisboa. Além disso, a autarquia irá incluir, nos próximos três anos, carros mais recentes neste pacote de restrições na zona da Baixa: em 2012, o coração de Lisboa ficará vedado aos ligeiros até 1996 e aos pesados até 2000; em 2014, só os veículos com matrícula de 2000 em diante poderão circular no centro sem o risco de os condutores serem multados.
Na véspera da aprovação da medida no executivo de Lisboa, o Automóvel Clube de Portugal pôs em dúvida a eficácia destas restrições, tendo em conta que serão poucos os carros anteriores a 1993 sujeitos às novas normas. Dados pedidos pelo PÚBLICO e entretanto divulgados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres referem que há 1.071.246 viaturas com matrículas anteriores a 1993. Porém, esse valor - que representa 12 por cento dos 8,89 milhões de carros matriculados em Portugal - são nacionais, não se sabendo quantos são os que circulam na região de Lisboa. Também Hélder Pedro, secretário-geral da Acap - Associação Automóvel de Portugal, que representa o sector automóvel nacional, considera que a decisão da autarquia "é positiva como exemplo", mas estima que "o impacto não será grande".
Já os profissionais dos táxis antecipam que virá aí confusão e problemas acrescidos. Isto porque a maioria das viagens de táxi são feitas dentro da cidade. "A taxa média de serviço é de cinco euros. São viagens curtas, muitas delas no centro e na Baixa, e que deixarão de poder ser feitas por aqueles cuja viatura seja abrangida pela restrições", frisa Pedro Lopes.
Adiar para o fim de 2012Florêncio de Almeida, presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), alega que "neste momento em que o país está de tanga é injusto obrigar a substituir viaturas". A melhor solução para cumprir as restrições será, segundo este dirigente, renovar a frota, mas a ANTRAL opõe-se ao calendário fixado pela autarquia. A associação apresenta números ligeiramente diferentes dos da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), estimando que haja 3400 táxis na capital, mas calcula os mesmos 20 por cento de matrículas anteriores a 1993.
O líder da FPT, Carlos Ramos, estima que sejam 3500 os veículos de aluguer a operar em Lisboa, mas coincide na percentagem de viaturas afectadas. Logo, existirão entre 680 a 700 táxis para adaptar, isto só levando em conta a primeira fase do sistema de emissões Euro I. Por isso, este dirigente que também pertence à Autocoop - Cooperativa de Táxis de Lisboa, defende a necessidade de adiar a medida pelo menos até ao fim de 2012. "Não discordamos da ideia, porque também pode ter benefícios para o sector, mas é preciso mais tempo para os profissionais adoptarem uma solução ao seu alcance", afirma Carlos Ramos. A Autocoop possui duas dezenas de carros para adaptar.
Já Florêncio de Almeida reclama "dois a três anos" para que os profissionais consigam investir na substituição dos veículos e remata: "É mais uma campanha de marketingdo que outra coisa".