O estuário mais estudado do país

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Recolha de amostra de água do Tejo para análise Daniel Rocha

O estuário do Tejo não é só o maior do país, é também o mais estudado. Desde 1979, já se gastaram pelo menos dez milhões de euros a investigá-lo, segundo as estimativas de João Gomes Ferreira, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa. Estão disponíveis dezenas de teses de mestrado e doutoramento, programas de monitorização, relatórios sobre o estado do rio e sobre o impacto da poluição. Uma pesquisa feita pelo mesmo investigador permitiu encontrar mais de 1200 artigos científicos sobre o tema.

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O estuário do Tejo não é só o maior do país, é também o mais estudado. Desde 1979, já se gastaram pelo menos dez milhões de euros a investigá-lo, segundo as estimativas de João Gomes Ferreira, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa. Estão disponíveis dezenas de teses de mestrado e doutoramento, programas de monitorização, relatórios sobre o estado do rio e sobre o impacto da poluição. Uma pesquisa feita pelo mesmo investigador permitiu encontrar mais de 1200 artigos científicos sobre o tema.

Não faltam, por isso, dados que permitam ver o estuário à lupa. Um dos objectos mais focados é o da contaminação com metais pesados. Em 1998, Gomes Ferreira coordenou o estudo Ecotejo, sobre o mercúrio da Cala do Norte, zona que fica entre o Aeródromo de Alverca e a Doca dos Olivais. O estudo Ecotejo, realizado por altura da Expo "98, permitiu concluir que a concentração de mercúrio na maioria das espécies analisadas - como o linguado, o robalo e o camarão-mouro - estava abaixo do limite legal, tendo registado um decréscimo nesses valores em relação a estudos anteriores.

A questão dos metais pesados é também um dos focos de interesse do Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (Ipimar). Um estudo em particular, publicado em 2008, quantificou os metais que estão acumulados há décadas nos sedimentos do estuário. Com base em 90 pontos de amostragem, chegou-se a um número assustador: as actividades humanas, em particular a indústria, deixaram um saldo de 3000 toneladas de metais como o crómio, chumbo, níquel, arsénio e cádmio nos primeiros cinco centímetros dos sedimentos. "Os organismos que aí vivem estão a sentir um efeito disso", afirma o investigador Carlos Vale, autor principal do trabalho.

O Ipimar está a trabalhar com a ARH do Tejona preparação do plano de ordenamento do estuário. E mantém há anos um programa de monitorização dos efeitos da Ponte Vasco da Gama.

O Centro de Oceanografia, da Universidade de Lisboa, também acompanha em permanência a evolução do Tejo - neste caso junto ao Parque das Nações. Desde 1996, são feitas análises à água e aos organismos que vivem no lodo. "É importante avaliar como as comunidades respondem à poluição. O que importa é a qualidade ecológica da água", afirma a investigadora Maria José Costa. Os resultados mostram que, desde a Expo "98, o nível de perturbação causada pela poluiçãosobre os organismos tem diminuído.

O mesmo está a ser feito para a frente ribeirinha de Lisboa, no Terreiro do Paço e em Alcântara. Curiosamente, em 2009, havia menos perturbação junto ao emissário da ETAR de Alcântara, onde são descarregados efluentes tratados, do que junto ao Terreiro do Paço, ainda com esgotos em bruto. Trabalho semelhante está a ser feito para avaliar o impacto da entrada em funcionamento das ETAR do Porto da Costa e do Porto do Buxo, em Almada.

Modelos de simulação permitiram identificar, num estudo de 2006, que se as ETAR retivessem todos os nutrientes dos esgotos, sem os deixar passar para o rio, o impacto concreto no estuário seria muito reduzido. Isto significa que o investimento no tratamento secundário das ETAR poderia não ser necessário. "Se não fosse obrigatório o secundário, tenho a sensação de que o primário seria suficiente", diz Ramiro Neves, do Instituto Superior Técnico, coordenador do estudo.