O Último Voo do Flamingo

Por muito que gostemos da ideia de um policial realista mágico na África lusófona contemporânea, esta adaptação do romance de Mia Couto sobre um oficial da ONU que investiga as mortes estranhas de soldados estrangeiros numa recôndita aldeia moçambicana é uma péssima concretização.

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Por muito que gostemos da ideia de um policial realista mágico na África lusófona contemporânea, esta adaptação do romance de Mia Couto sobre um oficial da ONU que investiga as mortes estranhas de soldados estrangeiros numa recôndita aldeia moçambicana é uma péssima concretização.


A estreia na longa-metragem do moçambicano João Ribeiro enche o olho com as suas paisagens magnificamente fotografadas, com os seus planos de grua e "steadycam" fluidos e espectaculares. Mas é tudo areia para os olhos, mascarando a incapacidade para dar credibilidade a uma narrativa que exige um clima de magia e mistério. "O Último Vôo do Flamingo" descarta conceitos tão básicos como ritmo, exposição, verosimilhança ou lógica interna, perde-se no acessório e passa ao lado do essencial, falta-lhe uma direcção de actores capaz de pôr o elenco multinacional a representar no mesmo filme (e Carlo d''Ursi é um erro de casting doloroso no papel principal).

É um objecto que, a julgar pelos créditos, não existiria sem a boa vontade de produtoras de seis países diferentes e sem uma resma de apoios estatais reservados ao cinema africano, e houve certamente esforço, trabalho e voluntarismo - mas o resultado é um equívoco.