Antigo Cinema Europa em Campo de Ourique vai ser demolido em Fevereiro
No orçamento participativo 2010, mecanismo que permite aos cidadãos eleger projectos de investimento municipal no valor de cinco milhões de euros, a autarquia comprometeu-se a reservar 690 mil euros para a criação de um equipamento cultural no piso térreo do novo edifício, montante que inclui "a obra e equipamento" e "diversos projectos". O que não está incluído é o valor de aquisição do espaço, com cerca de mil metros quadrados. A câmara recusou, através da assessora de imprensa, adiantar qual o investimento que está disposta a fazer e quando, garantindo apenas que "vai comprar o espaço".
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No orçamento participativo 2010, mecanismo que permite aos cidadãos eleger projectos de investimento municipal no valor de cinco milhões de euros, a autarquia comprometeu-se a reservar 690 mil euros para a criação de um equipamento cultural no piso térreo do novo edifício, montante que inclui "a obra e equipamento" e "diversos projectos". O que não está incluído é o valor de aquisição do espaço, com cerca de mil metros quadrados. A câmara recusou, através da assessora de imprensa, adiantar qual o investimento que está disposta a fazer e quando, garantindo apenas que "vai comprar o espaço".
Junto de algumas empresas de mediação imobiliária a operar na zona de Campo de Ourique, o PÚBLICO apurou que o preço por metro quadrado para espaços comerciais novos pode alcançar os 2500 a 3000 euros, o que poderia obrigar o município a gastar entre 2,5 e três milhões de euros. Porém, tudo depende do valor de referência do metro quadrado.
Outra possibilidade adiantada pelos proprietários do Cinema Europa é a realização de uma permuta. Certo é que, se as negociações fracassarem, o rés-do-chão do edifício será para comércio, explica o autor do projecto, o arquitecto Júlio Quaresma. As únicas coisas que irão ser preservadas no antigo cinema serão o alto-relevo da fachada e os vitrais no interior.
A demolição não é um assunto pacífico. O arquitecto João Rodeia, especialista em arquitectura do séc. XX, lamenta o desaparecimento deste exemplar do período moderno. Originalmente erguido nos anos 30, este cinema de bairro foi redesenhado por Antero Ferreira em 1958 e faz parte do inventário da arquitectura moderna portuguesa do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar, agora designado por Igespar). Mas nunca foi classificado por este organismo, o que significa que não tem nenhum grau de protecção.
"Se for demolido, é uma perda para a cidade e para Campo de Ourique", diz João Rodeia, ex-presidente do Ippar e actual bastonário dos arquitectos. Foram as autoridades a ditar a sentença de morte do edifício, que se encontra sem uso há perto de uma década: quer o Ministério da Cultura, quer a autarquia acharam que não valia a pena obrigar os seus proprietários a preservá-lo. O movimento cívico que há cinco anos lutou pela sua reabilitação acabou por se contentar com a promessa do centro cultural. E o presidente da Junta de Freguesia do Santo Condestável, Pedro Cegonho, também não se mostra impressionado com o abate: "É natural que haja um sentimento de perda. Mas gosto de olhar em frente. O que me importa é que o equipamento cultural se faça".