Obama declara guerra à Fox News e lança debate sobre liberdade de expressão

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A relação entre Obama e a Fox News tem sido tensa desde a corrida às primárias Jim Young/Reuters

A tensão está de tal forma elevada que hoje o senador republicano Lamar Alexander disse à Reuters que a Casa Branca de Obama lhe começa a parecer a de Nixon, guiada por um sentimento de “estão todos contra nós e temos de os apanhar”. O senador, um dos líderes da representação republicana no Congresso, sugeriu que o Presidente “recue” e “não comece uma lista de inimigos”, referindo-se à paranóia da presidência de Richard Nixon e à sua infame lista – com jornalistas e comentadores.

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A tensão está de tal forma elevada que hoje o senador republicano Lamar Alexander disse à Reuters que a Casa Branca de Obama lhe começa a parecer a de Nixon, guiada por um sentimento de “estão todos contra nós e temos de os apanhar”. O senador, um dos líderes da representação republicana no Congresso, sugeriu que o Presidente “recue” e “não comece uma lista de inimigos”, referindo-se à paranóia da presidência de Richard Nixon e à sua infame lista – com jornalistas e comentadores.

A batalha dura há semanas nos velhos e novos média, com a Casa Branca a dedicar uma secção do seu blogue The Briefing Room à correcção do que considera serem os erros ou mesmo as “mentiras” da Fox News – com link para o Truth-o-Meter (um “verdadómetro”) de um jornal que analisa questões semelhantes.

Este domingo, David Axelrod, o principal conselheiro político de Obama, disse na ABC que a programação da Fox News “não é verdadeiramente de notícias” mas sim “promoção de um ponto de vista”. No mesmo dia, o chefe de gabinete de Obama, Rahm Emanuel, dizia na CNN que a Fox News “não é uma empresa noticiosa”, mas sim tendenciosa. Quando a directora de comunicações da Casa Branca, Anita Dunn, disse ao "New York Times" que a Administração vai tratar a Fox News “da mesma forma que tratamos um adversário” e afirmou à "Time" que o canal faz “opinião mascarada de notícias”, alguns analistas começaram a preocupar-se com a atitude da Administração Obama.

A Casa Branca declarou a Fox News sua inimiga, isto depois de ter anunciado que ia ser mais agressiva na sua reacção a notícias com imprecisões ou desfavoráveis em geral.

Nobel, Olímpicos e saúde

A relação entre Obama e a Fox News tem sido tensa desde a corrida às primárias. Os seus comentadores, como Glenn Beck e a sua afirmação de que Obama é racista (“Tem um ódio profundamente enraizado pelos brancos”), bem como as escolhas noticiosas do canal foram alimentando essa tensão - sendo as famigeradas tea parties de contestação às políticas de Obama, nomeadamente quanto à reforma do sistema de saúde, um dos aspectos mais recentes dessa tensão, sem que tenham merecido resposta directa da Casa Branca. Mas a cobertura do canal sobre o Prémio Nobel da Paz para Obama, sobre a derrota de Chicago para anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016 e o facto de a Fox ter sido o único generalista a não fazer um directo com a ida de Obama ao Congresso para explicar a sua reforma da saúde foram os pontos de ruptura.

Nada disto é novo em termos históricos ou internacionais. No caso dos EUA, as relações tensas ou de suposto favorecimento entre os Presidentes americanos, candidatos e os média remontam aos primeiros Presidentes. Vão desde o tempo de John Adams (1789/97) até à lista secreta inimigos de Richard Nixon, passando pelo Presidente Harry S. Truman, que bania os jornalistas de que não gostava (tinha um ódio especial pelo "Chicago Tribune") do seu iate. Franklin Roosevelt relegava os repórteres mais críticos da sua administração para o fundo da sala das conferências de imprensa.

E durante 2007, a CNN era apelidada por alguns críticos como Clinton News Network pela ampla cobertura dada a Hillary. Já durante o mandato de Bill Clinton, a sua batalha retórica com o comentador conservador Rush Limbaugh foi constante.

Nile Gardiner, analista de assuntos internacionais, escreve agora no "Telegraph" que a atitude da Casa Branca representa “uma campanha abertamente política – e que está condenada ao falhanço”. “Os EUA são um país erguido sobre os princípios da liberdade de imprensa, governo limitado e livre empreendedorismo e é altamente inusual que uma Administração lance uma vingança autoritária contra uma única estação de notícias”, frisa o comentador.

Maioria conservadora

Jacob Weisberg, na "Newsweek", considera por seu turno que este é um “debate falso” sobre um canal “não-americano” e tendencioso. Já o colunista John Nichols, da revista de esquerda "The Nation", vê o ataque da Casa Branca à Fox como “uma resposta radicalmente errada” e aconselha o Presidente a dialogar com o canal ao invés de o ignorar - em Setembro, Obama deu entrevistas a todos os programas de informação dominicais dos principais canais, excepto à Fox News. “As críticas da Administração ainda trazem mais atenção para o canal e reforçam o agudo sentimento de vitimização dos seus telespectadores”, atenta Alan Schroeder, professor de Jornalismo da Universidade Northwestern, referindo-se à maioria conservadora dos EUA (segundo as sondagens da Gallup) que não se revê nas políticas Obama.

Glenn Beck já denunciou que está em causa um ataque à liberdade de imprensa. Lloyd Green, que trabalhou no Ministério da Justiça durante o mandato de George H. Bush, postula no site da Fox News: “Nixon era censório e corrupto. Até agora, Obama é simplesmente censório”.

Depois de Dunn ter dito no dia 11 à CNN que o canal de Murdoch é “uma ala do Partido Republicano”, o CEO da News Corp respondeu-lhe este fim-de-semana, dizendo numa reunião com accionistas que os comentários vindos da Casa Branca aumentaram “de forma tremenda as audiências” do seu canal de cabo. Por seu turno, o vice-presidente da Fox News (disponível em Portugal no Meo, na ARTelecom, Vodafone, Cabovisão e Clix), Michael Clemente, apelou a que se distinguisse entre as notícias e a opinião na Fox News e chamou a atenção para o facto de Administração estar “a atacar o mensageiro, [algo] que ao longo do tempo nunca funcionou”.