A nova família de Rodrigo Leão

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"António",  tema contido no álbum " Cinema", foi composto para embalar as primeiras palavras do filho António. "À espera de Sofia", revelado na antologia "Mundo", era sobre o terceiro rebento de Rodrigo Leão. A 22 de Junho, editará "Mãe", novo álbum de originais, dedicado à mãe, falecida em Janeiro, disco apresentado anteontem no Salão Preto e Prata do Casino Estoril.
Há três anos perguntávamos-lhe se as experiências marcantes da sua vida se reflectiam na criação. Ele respondia que, "apesar do processo de composição ser intuitivo, há duas partes que a constituem: uma subjectiva e abstracta, outra muito marcada pelas pessoas que conhecemos. E os filhos são uma coisa forte", dizia.
Uma mãe também. Talvez por isso os temas de " Mãe"  apresentados respirem um clima tão emotivo. São provavelmente o conjunto de canções mais melancólicas que alguma vez compôs. Marcadas pela ausência, mas também carregadas de alento, de sentido de renascença. É um tributo, mas universal.
Pelo ambiente afectivo, foi um espectáculo único. Mas não foi apenas por isso. Havia convidados especiais também - a Orquestra Sinfonieta de Lisboa e dois dos cantores que entram no novo disco (o inglês Stuart Staples dos Tindersticks e o argentino Melingo), tendo faltado apenas o inglês Neil Hannon dos Divine Comedy. Em palco esteve também a habitual formação que o acompanha, o Cinema Ensemble. No total, uma trintena de músicos, num óptimo concerto.
Foi um ritual subtil, como quase todos os concertos de Rodrigo Leão, criação de tonalidades emocionais através de várias linguagens (música contemporânea, clássica, minimalismo, ambientalismo, tango, fado, pop), de forma quase imperceptível. Do comovedor " Histórias", tema de abertura do novo disco, aos momentos festivos - o novo "Ya sè tebe" ou os conhecidos "La fête" ou "Pasion", este último com a acordeonista Celina Piedade na voz.
No novo disco, a voz de Ana Vieira destaca-se ainda mais. Às vezes ganha colorações de fado ("Vida tão estranha"  ou "Segredos"), fazendo recordar a solenidade de tempos idos dos Madredeus, outras vezes ("Sleepless heart") lembrando Beth Gibbons dos Portishead, que participava no último disco de Leão.

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"António",  tema contido no álbum " Cinema", foi composto para embalar as primeiras palavras do filho António. "À espera de Sofia", revelado na antologia "Mundo", era sobre o terceiro rebento de Rodrigo Leão. A 22 de Junho, editará "Mãe", novo álbum de originais, dedicado à mãe, falecida em Janeiro, disco apresentado anteontem no Salão Preto e Prata do Casino Estoril.
Há três anos perguntávamos-lhe se as experiências marcantes da sua vida se reflectiam na criação. Ele respondia que, "apesar do processo de composição ser intuitivo, há duas partes que a constituem: uma subjectiva e abstracta, outra muito marcada pelas pessoas que conhecemos. E os filhos são uma coisa forte", dizia.
Uma mãe também. Talvez por isso os temas de " Mãe"  apresentados respirem um clima tão emotivo. São provavelmente o conjunto de canções mais melancólicas que alguma vez compôs. Marcadas pela ausência, mas também carregadas de alento, de sentido de renascença. É um tributo, mas universal.
Pelo ambiente afectivo, foi um espectáculo único. Mas não foi apenas por isso. Havia convidados especiais também - a Orquestra Sinfonieta de Lisboa e dois dos cantores que entram no novo disco (o inglês Stuart Staples dos Tindersticks e o argentino Melingo), tendo faltado apenas o inglês Neil Hannon dos Divine Comedy. Em palco esteve também a habitual formação que o acompanha, o Cinema Ensemble. No total, uma trintena de músicos, num óptimo concerto.
Foi um ritual subtil, como quase todos os concertos de Rodrigo Leão, criação de tonalidades emocionais através de várias linguagens (música contemporânea, clássica, minimalismo, ambientalismo, tango, fado, pop), de forma quase imperceptível. Do comovedor " Histórias", tema de abertura do novo disco, aos momentos festivos - o novo "Ya sè tebe" ou os conhecidos "La fête" ou "Pasion", este último com a acordeonista Celina Piedade na voz.
No novo disco, a voz de Ana Vieira destaca-se ainda mais. Às vezes ganha colorações de fado ("Vida tão estranha"  ou "Segredos"), fazendo recordar a solenidade de tempos idos dos Madredeus, outras vezes ("Sleepless heart") lembrando Beth Gibbons dos Portishead, que participava no último disco de Leão.


Em palco, todos de preto, menos a camisa garrida do baterista Luís San Payo. À esquerda, Rodrigo parece imerso nos teclados, mas quando um tema termina, todos os outros músicos olham na sua direcção. É ele que dá ordem de arranque para mais uma canção. No centro, o Ensemble, seis músicos dotados (acordeão, violoncelo, violino, viola de arco, baixo e bateria), criando uma enorme cumplicidade entre si. Atrás, a Orquestra Sinfonieta de Lisboa contribuindo para uma sonoridade ainda mais densa, barroca e orquestral.
Dos convidados, Stuart Staples é o primeiro a entrar em acção, voz grave, posição do corpo tensa, olhos fechados, sensibilidade em bruto em " This light holds so many colours",  letra da sua autoria, num dos momentos da noite. Entra depois Melingo, gingão, voz rouca, vivida, serpenteando pelo palco, "querido amigo", canta na direcção de Rodrigo, "yo solo sé que no sé nada", numa viagem cúmplice pelo tango entre quem sabe, afinal, bastante sobre o poder da música em comunicar o indizível.
Rodrigo Leão não está só. Na sexta-feira teve novos amigos e a família, a da plateia e a do palco, à sua volta.