Tourada rende mais do que música erudita

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Um quinto dos visitantes dos museus escolheu os de Arte Adriano Miranda

Os dados do INE confirmam que os portugueses continuam a dar preferência ao cinema, mostram que a região de Lisboa concentra boa parte da oferta cultural e reservam algumas eventuais surpresas, como a de as touradas movimentarem mais dinheiro do que a música erudita e a ópera juntas.

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Os dados do INE confirmam que os portugueses continuam a dar preferência ao cinema, mostram que a região de Lisboa concentra boa parte da oferta cultural e reservam algumas eventuais surpresas, como a de as touradas movimentarem mais dinheiro do que a música erudita e a ópera juntas.

Em 2007, realizaram-se em Portugal 27.650 espectáculos ao vivo, aos quais assistiram 9,8 milhões de pessoas, o que dá uma média de quase 355 espectadores por sessão. O teatro é o domínio com maior oferta, com 12012 sessões - 43,4 por cento do total -, logo seguido pela música ligeira (5660) e pela música erudita (2261).

Já em número de espectadores, a música ligeira, com quase seis milhões de espectadores anuais, ultrapassa de longe o teatro, que ainda assim atrai anualmente às salas perto de 1,8 milhões de pessoas, mais do que o triplo das que assistem a concertos de música erudita.

Música ligeira dá 30 milhões

Nas receitas geradas por espectáculos ao vivo, a música ligeira contribui também com a parte de leão, tendo rendido, em 2007, quase 30 milhões de euros. Segue-se o teatro, com 10,5 milhões, e a tauromaquia, que, em apenas 190 sessões, registou quase 300 mil espectadores e rendeu mais de cinco milhões de euros.


Os bilhetes vendidos para concertos de música erudita totalizaram cerca de 3,15 milhões. A ópera ficou-se por 2,25 milhões, mas com apenas 184 exibições. Nas modalidades inventariadas pelo INE, só a dança moderna ultrapassa ainda, e por curta margem, o milhão de euros anuais. Abaixo desse limite ficam, por exemplo, o folclore e o circo.

A distribuição regional dos espectáculos ao vivo mostra um acentuado desequilíbrio em favor da região de Lisboa, com 11.460 sessões em 2007, número sensivelmente igual à das registadas no conjunto das regiões Norte e Centro. Se tivermos em conta a demografia, na região da Grande Lisboa e da península de Setúbal houve um espectáculo para cada 233 habitantes, ao passo que na Região Norte o segundo termo sobe para 657.

Esta concentração da oferta cultural na região de Lisboa, que, em número de sessões, ultrapassa os 41 por cento do total do país, revela-se ainda mais vincada quando se olha para as receitas geradas: mais de 45 milhões de euros, num total nacional de 66,4 milhões, o que corresponde a quase 70 por cento.

Cinema americano domina

No cinema, é sem surpresa que a indústria americana monopoliza o cartaz, ocupando 68 por cento dos ecrãs existentes, apesar de representar apenas 412 dos 1073 filmes exibidos. Mas são produções que continuam a recolher a preferência do público, e que por isso mobilizaram 73 por cento do total dos 16,3 milhões de espectadores registados em 2007, rendendo quase 70 milhões de euros.


Em luta desigual, o cinema europeu, com perto de 25 por cento dos filmes programados (221 títulos), ficou-se por nove por cento das sessões e percentagem ainda menor (8 por cento) de espectadores.

Seguindo a contabilidade do Instituto de Cinema e Audiovisual, o INE diz que o cinema português teve 55 filmes em cena (incluindo 14 longas-metragens), desdobrados em 17554 sessões, que tiveram 372976 espectadores e valeram 1,6 milhões de euros.

A distribuição do mapa de exibição segue a tendência geral, com Lisboa a assegurar quase metade dos espectadores, mas, curiosamente, a mostrar uma taxa de ocupação (13,6 por cento) inferior às da Região Norte e do Algarve (ambas com 15 por cento).

Ainda segundo o INE, o número de visitantes de museus (incluindo zoos, jardins botânicos e aquários) é idêntico ao do público de espectáculos - quase 10 milhões. Mas, neste sector, o lazer vai à frente: 31 por cento dos consumidores prefere passear-se pelos jardins e aquários. Já o circuito das galerias de arte mobilizou quase sete milhões de visitantes.

Embora baseados num inquérito de 2005-06, são também significativos os dados que apontam para um significativo aumento percentual da despesa das famílias portuguesas em cultura e lazer: de 3,7, em 1996, para 5,7 em 2006. Nesse ano, a despesa anual média neste domínio foi, por agregado familiar, de 997 euros.