Morreu José Joaquim Moreira da Silva, o pai do fogo controlado em Portugal

Foto
De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-Gerês Paulo Pimenta/PÚBLICO (arquivo)

A José Moreira da Silva deve-se quase tudo o que o país sabe hoje de fogo controlado. E muito do que agora se está a tentar fazer para defender a floresta contra incêndios já era por ele defendido há mais de 40 anos. "Foi um visionário", descreve quem o conheceu. Deixa um importante legado mas, sobretudo, "o que mais custa é perder alguém com a sua coerência e verticalidade, porque isso é o mais raro", diz Francisco Castro Rego, do Instituto Superior de Agronomia.

Nascido a Dezembro de 1923 no Porto, licencia-se como engenheiro silvicultor em 1947. Dedica a sua vida aos serviços florestais, onde inova em várias frentes, como a criação das primeiras reservas de caça e de pesca e viveiros de plantas. De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde se distingue novamente por um trabalho inovador.

Ali promoveu cursos para operadores de máquinas florestais de forma a não destruírem sítios arqueológicos no Gerês. "Uma iniciativa que muitos vaticinaram votado ao fracasso porque diziam que os operadores não teriam sensibilidade para isso mas que afinal foi um sucesso tremendo que permitiu até que se descobrissem novos sítios", relata Francisco Rego.

É também no Parque que começa a fazer as primeiras experiências de fogo controlado. Mas só anos mais tarde, quando estava na Circunscrição Florestal do Porto, é que esta ideia avança. Por carolice já que ninguém se interessou por isso. Com algumas excepções como Francisco Rego, que na altura estava na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Teresa Cabral, da Estação Florestal.

"Teve uma atitude pouco normal nos técnicos que foi a preocupação com as questões ecológicas: ele quis conhecer as consequências dos fogos controlados em todas as componentes do ecossistema e por isso andou à procura de pessoas que se encarregassem de estudar cada uma dessas componentes", diz Teresa Cabral.

No último ano, Portugal aplicou esta técnica para defender a floresta contra as chamas. Tal como está a tentar pôr de pé instrumentos que Moreira da Silva defendia há muito.

Em 1965, Moreira da Silva, Vasco Quintanilha e Ernâni José da Silva elaboraram o relatório Princípios Básicos de Luta contra Incêndios na Floresta Particular Portuguesa. Estava lá tudo. O diagnóstico - as monoculturas e desertificação rural conduziram ao desastre - e a solução: a redefinição da gestão florestal privada no minifúndio através da criação de polígonos florestais com dimensão para potenciar a sua correcta gestão (as actuais Zonas de Intervenção Florestal), o planeamento florestal e de infra-estruturas e a adopção de sistemas de prevenção e combate assentes na profissionalização dos seus agentes.

Há 15 dias foi homenageado pelo Centro Nacional de Cultura, por iniciativa de Oliveira Fernandes, que nunca esqueceu a fabulosa visão deste engenheiro florestal. Já não assistiu, por estar internado no hospital onde foi operado a um tumor cerebral. Que acabou por vencê-lo. Fica a sua herança. E a dívida do país a um homem que deu a sua vida ao serviço público.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A José Moreira da Silva deve-se quase tudo o que o país sabe hoje de fogo controlado. E muito do que agora se está a tentar fazer para defender a floresta contra incêndios já era por ele defendido há mais de 40 anos. "Foi um visionário", descreve quem o conheceu. Deixa um importante legado mas, sobretudo, "o que mais custa é perder alguém com a sua coerência e verticalidade, porque isso é o mais raro", diz Francisco Castro Rego, do Instituto Superior de Agronomia.

Nascido a Dezembro de 1923 no Porto, licencia-se como engenheiro silvicultor em 1947. Dedica a sua vida aos serviços florestais, onde inova em várias frentes, como a criação das primeiras reservas de caça e de pesca e viveiros de plantas. De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde se distingue novamente por um trabalho inovador.

Ali promoveu cursos para operadores de máquinas florestais de forma a não destruírem sítios arqueológicos no Gerês. "Uma iniciativa que muitos vaticinaram votado ao fracasso porque diziam que os operadores não teriam sensibilidade para isso mas que afinal foi um sucesso tremendo que permitiu até que se descobrissem novos sítios", relata Francisco Rego.

É também no Parque que começa a fazer as primeiras experiências de fogo controlado. Mas só anos mais tarde, quando estava na Circunscrição Florestal do Porto, é que esta ideia avança. Por carolice já que ninguém se interessou por isso. Com algumas excepções como Francisco Rego, que na altura estava na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Teresa Cabral, da Estação Florestal.

"Teve uma atitude pouco normal nos técnicos que foi a preocupação com as questões ecológicas: ele quis conhecer as consequências dos fogos controlados em todas as componentes do ecossistema e por isso andou à procura de pessoas que se encarregassem de estudar cada uma dessas componentes", diz Teresa Cabral.

No último ano, Portugal aplicou esta técnica para defender a floresta contra as chamas. Tal como está a tentar pôr de pé instrumentos que Moreira da Silva defendia há muito.

Em 1965, Moreira da Silva, Vasco Quintanilha e Ernâni José da Silva elaboraram o relatório Princípios Básicos de Luta contra Incêndios na Floresta Particular Portuguesa. Estava lá tudo. O diagnóstico - as monoculturas e desertificação rural conduziram ao desastre - e a solução: a redefinição da gestão florestal privada no minifúndio através da criação de polígonos florestais com dimensão para potenciar a sua correcta gestão (as actuais Zonas de Intervenção Florestal), o planeamento florestal e de infra-estruturas e a adopção de sistemas de prevenção e combate assentes na profissionalização dos seus agentes.

Há 15 dias foi homenageado pelo Centro Nacional de Cultura, por iniciativa de Oliveira Fernandes, que nunca esqueceu a fabulosa visão deste engenheiro florestal. Já não assistiu, por estar internado no hospital onde foi operado a um tumor cerebral. Que acabou por vencê-lo. Fica a sua herança. E a dívida do país a um homem que deu a sua vida ao serviço público.