Avôzinho diz-me tu

A este lote de estreias nacionais vem-se agora juntar "Atrás das Nuvens", primeira longa paracinema de mais um realizador formado na escola do "pronto-acomer" televisivo, Jorge Queiroga. Ainda não é desta que se descobre um grande filme português"mainstream" - até parece que é um objectivo impossível, o que "O Milagre Segundo Salomé", de Mário Barroso, ou "Alice", de Marco Martins, já desmentiram... - mas esta produção modesta, rodada emdigital de alta definição, é um objecto simpático e despretensioso, mesmo que muito frágil, quemereceria encontrar um público. História de um miúdo curioso e desempoeirado, órfão de pai, que parte sozinho em busca do avô paterno que nunca conheceu e cria com ele uma cumplicidade mágica ao longo de alguns dias de férias de Verão, faz pensar no "Adeus, Pai" de Luís Filipe Rocha, com o qualpartilha a ideia de um menino que aprende a conhecer um familiar que até aí lhe era desconhecido, emboraacabe por se distanciar desse outro filme, em parte pelas debilidades de um argumento ocasionalmentedemasiado esquemático e cheio de "buracos" muito convenientes para não "travar" a narração. E,sobretudo - e isto é pecha de muita desta tentativa de produção de "mainstream", talvez por os seusautores terem passado demasiado tempo a fazer televisão -, há aqui pouco de verdadeiro cinema e muito de telefilme anónimo e funcional, que encara o grande écrã apenas como um pequeno écrã ampliado.

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A este lote de estreias nacionais vem-se agora juntar "Atrás das Nuvens", primeira longa paracinema de mais um realizador formado na escola do "pronto-acomer" televisivo, Jorge Queiroga. Ainda não é desta que se descobre um grande filme português"mainstream" - até parece que é um objectivo impossível, o que "O Milagre Segundo Salomé", de Mário Barroso, ou "Alice", de Marco Martins, já desmentiram... - mas esta produção modesta, rodada emdigital de alta definição, é um objecto simpático e despretensioso, mesmo que muito frágil, quemereceria encontrar um público. História de um miúdo curioso e desempoeirado, órfão de pai, que parte sozinho em busca do avô paterno que nunca conheceu e cria com ele uma cumplicidade mágica ao longo de alguns dias de férias de Verão, faz pensar no "Adeus, Pai" de Luís Filipe Rocha, com o qualpartilha a ideia de um menino que aprende a conhecer um familiar que até aí lhe era desconhecido, emboraacabe por se distanciar desse outro filme, em parte pelas debilidades de um argumento ocasionalmentedemasiado esquemático e cheio de "buracos" muito convenientes para não "travar" a narração. E,sobretudo - e isto é pecha de muita desta tentativa de produção de "mainstream", talvez por os seusautores terem passado demasiado tempo a fazer televisão -, há aqui pouco de verdadeiro cinema e muito de telefilme anónimo e funcional, que encara o grande écrã apenas como um pequeno écrã ampliado.

Mas, se não se sente uma personalidade de realizador em "Atrás das Nuvens", sente-se uma bem-vinda sobriedade, a noção exacta da história que se quer contar e do modo como se quer contá-la, ainteligência de não a empolar nem de cair em histrionismos fáceis (seria tão fácil...), e a capacidade de deixar o filme nas mãos dos actores para compensar o que falta no argumento. A esse nível, está aqui um produto limpinho, que tem o bom senso de voltar a provar como Nicolau Breyner apenas melhora com a idade e continua a ser o nosso melhor (o nosso grande?) actor de cinema, com a sua classe (e a de algumas presenças discretas e seguras como José Eduardo e Carmen Santos) a levantar a fasquia.A sua relação com o miúdo Ruben Leonardo e a empatia que ambos sentem e que lhes permite partilhar os sonhos mágicos que o velho Citroen "boca de sapo" invoca ajuda e muito a sustentar a verosimilhança e a credibilidade do filme (o que não seria necessariamente evidente). "Atrás das Nuvens" acaba por ser escorreito e eficaz o suficiente para fazer esquecer as debilidades do argumento, engendra um assinalável capital de simpatia que consegue não desbaratar. Já não é nada mau.