Descobrimentos na "mais ambiciosa" exposição

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Jay Levenson (à esquerda) e Julian Raby, dois dos organizadores, dinate de uma tapeçaria que documenta a chegada dos portugueses ao Oriente Enric Vives-Rubio

Quem o garante é Julian Raby, director do National Museum of Asian Art, um dos mais importantes da Smithsonian, que esteve ontem em Lisboa para apresentar Encompassing the Globe: Portugal e o Mundo nos Séculos XVI e XVII.

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Quem o garante é Julian Raby, director do National Museum of Asian Art, um dos mais importantes da Smithsonian, que esteve ontem em Lisboa para apresentar Encompassing the Globe: Portugal e o Mundo nos Séculos XVI e XVII.

"Esta exposição tem uma escala que nunca tentámos antes", disse Raby no fim da conferência de imprensa em que participaram o comissário convidado, Jay Levenson, e os ministros da Cultura e da Economia, Isabel Pires de Lima e Manuel Pinho, respectivamente. "Temos 300 peças de mais de 112 colecções espalhadas pelo mundo. Algumas só raras vezes emprestam obras." É o caso dos museus do Japão, que cederam três biombos namban, por oito semanas cada.

"Em termos académicos, não foi um projecto difícil, mas logística e financeiramente foi um verdadeiro desafio", acrescenta Raby, de 56 anos, o especialista em arte islâmica que desde 2002 dirige a Freer Gallery of Art e a Arthur M. Sackler Gallery, que formam o museu de arte asiática. "Esta exposição de arte é a mais ambiciosa dos nossos museus, é à escala de um Metropolitan [Museum of Art, em Nova Iorque]."

Objectos multiculturais

A exposição, orçada em 2,5 milhões de dólares (1,8 milhões de euros) - 500 mil dos quais pagos pelo Ministério da Cultura -, vai ocupar ainda outro dos principais museus da Smithsonian, o National Museum of African Art. Dividida em seis módulos que correspondem a áreas geográficas ligadas à Expansão (Portugal, África, Brasil, Oceano Índico, China e Japão), Encompassing the Globe está preparada para um público americano, que sabe pouco sobre os Descobrimentos. "De Portugal os americanos conhecem apenas a viagem de Vasco da Gama. Depois passam rapidamente para o império espanhol", disse Jay Levenson, o comissário, que há quase dez anos sonhava fazer esta exposição.

Levenson, também director do programa internacional do Museum of Modern Art de Nova Iorque, esteve já ligado a duas grandes exposições americanas que envolveram a arte portuguesa: Circa 1492: Art in The Age of Exploration e The Age of The Barroque in Portugal. "Fomos à procura de peças pelo mundo fora que fossem lindas obras de arte e, ao mesmo tempo, contassem a história do império português", explicou, sublinhando a preocupação em incluir no catálogo artigos de "uma nova geração de historiadores" com informação capaz de contextualizar os objectos (como Jack Turner e Yukio Lippitt).

Levenson mostrou aos ministros e a muitos dos patrocinadores presentes (ver caixa) algumas obras da exposição, "exemplos perfeitos" do encontro de culturas que os Descobrimentos proporcionaram, como o saleiro em forma de esfera armilar criado no território que é hoje a Serra Leoa. "Combina de maneira exemplar o universo do artesão e o do europeu que o encomendou", acrescentou o comissário. "Nesta exposição temos alguns dos primeiros objectos verdadeiramente multiculturais do mundo."

Um mundo que os portugueses ajudaram a redesenhar. "Portugal foi absolutamente fundamental para a criação do mundo moderno", disse Raby. "O Renascimento não é só a redescoberta da Grécia - é a descoberta de um mundo novo." Agora o mundo anda mais devagar, admite. "As viagens dos portugueses marcaram um período histórico fascinante, com descobertas incríveis todos os anos. E agora? Chegámos à lua no final dos anos 60. O que sabemos hoje sobre a lua que realmente nos interesse? Quase nada."

Antes da conferência de imprensa no Museu Nacional de Arte Antiga, Raby e Levenson guiaram os ministros numa rápida visita pela colecção, com paragem em algumas das 14 peças que viajarão até Washington (fazem parte de um grupo de 60 obras emprestadas por 30 colecções públicas e privadas portuguesas). O Museu Ermitage e o Kunsthistoriches Museum estão entre as instituições que cederam obras para a exposição (de 23 de Junho a 11 de Setembro).