Luna Dance

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O álbum de estreia, "Trying To Lose", era a melhor representação possível desses fogachos eléctricos, "groove" mantido constante para exigir resposta ao corpo – estavam lá as pausas adoptadas do funk de James Brown, esse momento em que tudo se suspende para tornar mais excitante o momento em que o silêncio se quebra novamente. Era um óptimo álbum de dança, um contínuo rock’n’roll para go-go dancers, melómanos e não melómanos – basta ter sangue quente para responder devidamente ao que por ali se passa. Chega "Luna Dance" e, mesmo com a saída de Filipe Costa e a chegada de João Cardoso, à partida pouco mudou. O quadro de referências é o mesmo – não há versões de Kraftwerk, dos Joy Division ou dos Human League –, a voracidade mantém-se igual. Porém, rapidamente percebemos que isso significa simplesmente que a essência dos Bunnyranch é inalterável. Enquanto "Trying To Lose" fluía como experiência ao vivo – uma descarga contínua de adrenalina, "Luna Dance" mostra-nos os Bunnyranch empenhados nas canções. "We Got This Thing", wah-wah distorcido e Rhodes apontando o caminho, mostra Kaló compenetrado no grito soul – esquecido das lições de gospel, é certo, soul-man ainda assim. "Let Me Understand" tem efervescência "garageira" e um refrão que levaria Sting a fustigar-se por todos os pecados e encarnar definitivamente o rei mod de "Quadrophenia" – aquele "We must join forces" é levantamento pop que os Creation ou os Small Faces aprovariam. "The dog", por sua vez, é a balada possível em pessoal irrequieto – ou seja, em rotações elevadas demais e com uma guitarra demasiado assombrada para o ser realmente. "In the land of the poor" ginga pela pista de dança ao sabor do dueto de Kaló com Cláudia Ribeiro (Micro Audio Waves) em modo provocador – e, ali pelo meio, André Ferrão encarna Luther Perkins em clube de Memphis e estamos no céu. Em "Luna Dance" há mais "canções-canções", um equilíbrio entre a guitarra e os teclados – "Trying To Lose" era todo ele conduzido pelo movimento das teclas – e novas soluções, por discretas que sejam, a enriquecer o som – quase não damos pelo sax de Gui em "Your words are my jokes", mas ele é indispensável ao "swing" da canção. Há tudo isso, mas claro que temos "Can't stop the ranch" – título auto-explicativo – ou a irresistível "Flip Flop" para provar os Bunnyranch em versão vintage. É como dissemos. Os Bunnyranch podem ter mudado. A essência é felizmente a mesma.

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O álbum de estreia, "Trying To Lose", era a melhor representação possível desses fogachos eléctricos, "groove" mantido constante para exigir resposta ao corpo – estavam lá as pausas adoptadas do funk de James Brown, esse momento em que tudo se suspende para tornar mais excitante o momento em que o silêncio se quebra novamente. Era um óptimo álbum de dança, um contínuo rock’n’roll para go-go dancers, melómanos e não melómanos – basta ter sangue quente para responder devidamente ao que por ali se passa. Chega "Luna Dance" e, mesmo com a saída de Filipe Costa e a chegada de João Cardoso, à partida pouco mudou. O quadro de referências é o mesmo – não há versões de Kraftwerk, dos Joy Division ou dos Human League –, a voracidade mantém-se igual. Porém, rapidamente percebemos que isso significa simplesmente que a essência dos Bunnyranch é inalterável. Enquanto "Trying To Lose" fluía como experiência ao vivo – uma descarga contínua de adrenalina, "Luna Dance" mostra-nos os Bunnyranch empenhados nas canções. "We Got This Thing", wah-wah distorcido e Rhodes apontando o caminho, mostra Kaló compenetrado no grito soul – esquecido das lições de gospel, é certo, soul-man ainda assim. "Let Me Understand" tem efervescência "garageira" e um refrão que levaria Sting a fustigar-se por todos os pecados e encarnar definitivamente o rei mod de "Quadrophenia" – aquele "We must join forces" é levantamento pop que os Creation ou os Small Faces aprovariam. "The dog", por sua vez, é a balada possível em pessoal irrequieto – ou seja, em rotações elevadas demais e com uma guitarra demasiado assombrada para o ser realmente. "In the land of the poor" ginga pela pista de dança ao sabor do dueto de Kaló com Cláudia Ribeiro (Micro Audio Waves) em modo provocador – e, ali pelo meio, André Ferrão encarna Luther Perkins em clube de Memphis e estamos no céu. Em "Luna Dance" há mais "canções-canções", um equilíbrio entre a guitarra e os teclados – "Trying To Lose" era todo ele conduzido pelo movimento das teclas – e novas soluções, por discretas que sejam, a enriquecer o som – quase não damos pelo sax de Gui em "Your words are my jokes", mas ele é indispensável ao "swing" da canção. Há tudo isso, mas claro que temos "Can't stop the ranch" – título auto-explicativo – ou a irresistível "Flip Flop" para provar os Bunnyranch em versão vintage. É como dissemos. Os Bunnyranch podem ter mudado. A essência é felizmente a mesma.