Do céu caiu um controle remoto

O problema também não é a premissa básica do filme - um arquitecto consumido pelo trabalho dá por si em posse de um controle remoto que, literalmente, toma conta da sua própria vida, permitindo-lhe fazer "fast forward" dos momentos desagradáveis, "pause" para despachar trabalho e "rewind" para reviver os bons momentos, mas que rapidamente se torna num presente envenenado. É uma premissa inventada por Steve Koren e Mark O' Keefe, os mesmos argumentistas que fizeram de Jim Carrey um Deus temporário no já insuportável "Bruce, o Todo-Poderoso" (Tom Shadyac, 2003) - e a referência Capraesca, com o filme de Frank Coraci a transformar-se numa espécie de actualização do imortal "Do Céu Caiu uma Estrela" (1946) cruzado com o "Conto de Natal" de Charles Dickens, não é exactamente inesperada para quem se recorde de "Mr. Deeds" (Steven Brill, 2002), a "remake" de "Doido com Juízo" (1936) que Sandler protagonizou.

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O problema também não é a premissa básica do filme - um arquitecto consumido pelo trabalho dá por si em posse de um controle remoto que, literalmente, toma conta da sua própria vida, permitindo-lhe fazer "fast forward" dos momentos desagradáveis, "pause" para despachar trabalho e "rewind" para reviver os bons momentos, mas que rapidamente se torna num presente envenenado. É uma premissa inventada por Steve Koren e Mark O' Keefe, os mesmos argumentistas que fizeram de Jim Carrey um Deus temporário no já insuportável "Bruce, o Todo-Poderoso" (Tom Shadyac, 2003) - e a referência Capraesca, com o filme de Frank Coraci a transformar-se numa espécie de actualização do imortal "Do Céu Caiu uma Estrela" (1946) cruzado com o "Conto de Natal" de Charles Dickens, não é exactamente inesperada para quem se recorde de "Mr. Deeds" (Steven Brill, 2002), a "remake" de "Doido com Juízo" (1936) que Sandler protagonizou.

O problema, mesmo, é que "Click" é um filme profundamente hipócrita: pretende ser uma crítica virulenta a uma sociedade contemporânea demasiado consumista e insuficientemente virada para os "valores fundamentais" humanos, mas pulula com publicidade encapotada a "junk food" e a cadeias de lojas, perpetuando o ciclo vicioso que finge denunciar. O problema, mais ainda, é que "Click" é um filme piedosamente moralista feito à medida do manual de auto-ajuda politicamente correcto pensado para todo um estrato socioeconómico alimentado a "Dr. Phil" e "junk food". O problema, muito maior ainda, é que em nenhum momento Frank Coraci encontra o tom certo para que a coisa possa sequer resultar: passa-se da comédia juvenil de vertente escatológico-infantil para o melodrama açucarado e peganhento como se não houvesse diferença entre ambos, quer-se ter um pé no cravo do público que fez de fitas como "Um Casamento Quase Perfeito" e "O Águas" (ambos 1998 e ambos assinados por Coraci) êxitos de bilheteira e outro na ferradura de um público mais adulto para quem o actor fez "Terapia de Choque" (Peter Segal, 2003) ao lado de Jack Nicholson. E não consegue ser nem uma nem outra coisa, composto pelo pouquíssimo à-vontade do actor, também ele prisioneiro da indecisão em que este objecto que parece aquelas comédias bem-intencionadas em que Robin Williams deixou afogar a sua carreira o deixa. Sim, há Christopher Walken, é verdade, mas nós perdoamos-lhe.

"Click" é um filme sonso. A evitar cuidadosamente.