Borboletas-monarca fizeram colónias no Algarve

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Condição essencial para a presença de monarcas no país é a existência da planta de que depende, as asclepiadáceas DR

De vez em quando, em anos recentes, um ou outro conhecedor dava de caras com uma monarca. Porém, tratavam-se de avistamentos esporádicos, a ponto de no recente livro sobre as borboletas de Portugal, de Ernestino Maravalhas - a obra mais actualizada sobre esta ordem de insectos no país - , a espécie aparecer referida como migrante no continente.

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De vez em quando, em anos recentes, um ou outro conhecedor dava de caras com uma monarca. Porém, tratavam-se de avistamentos esporádicos, a ponto de no recente livro sobre as borboletas de Portugal, de Ernestino Maravalhas - a obra mais actualizada sobre esta ordem de insectos no país - , a espécie aparecer referida como migrante no continente.

Mas em 2001, Luís Palma, da Universidade do Algarve, encontra, na ribeira de Seixe, um grupo de quatro borboletas-monarca juntas com todo o ar de quem tinha vindo para ficar. Com António Bívar de Sousa, especialista em borboletas, decide tirar o caso a limpo. Em 2003, os dois biólogos fazem uma busca sistemática nas serras e no litoral do Algarve. Em 15 locais, dos 107 prospectados, foram descobertas colónias de borboletas-monarca ("Danaus plexippus").

Num artigo publicado no boletim da Sociedade Portuguesa de Entomologia, Palma e Bívar de Sousa explicam que esta colonização deve ter ocorrido recentemente. E prevêem uma expansão nos próximos anos.

Condição essencial para a presença de monarcas no país é a existência da planta de que depende, as asclepiadáceas. "A samaúma-bastarda, sedas ou pepino-da-seda ('Gomphocarpus fruticosus'), sobre a qual estão estabelecidas a quase totalidade das colónias de 'Danaus' detectadas no presente estudo, é um arbusto exótico de origem afrotropical, outrora plantado como ornamental ou cultivado para a produção de fibras têxteis", explicam os autores.

Esta planta "tem vindo a estabelecer-se como subespontânea em diversas regiões do mundo, incluindo a Europa, onde se encontra naturalizada ao longo das margens dos rios, próximo da costa, na Região Mediterrânica", adiantam. Porém, em Portugal, ela era quase desconhecida. "É certo que esta se expandiu de forma acentuada nos últimos anos na área de estudo, já que as populações actualmente conhecidas, embora conspícuas, não foram detectadas durante os estudos botânicos intensivos realizados na região em meados da década de 1990, em que foram encontrados apenas escassos exemplares localizados no sudoeste litoral."

O facto de agora estar em expansão nesta região "deverá ter sido o factor determinante no estabelecimento da monarca como reprodutora" no Algarve, avançam os biólogos.

Mas se as razões da estadia das borboletas-monarca podem estar explicadas, já não é tão simples descobrir de onde vêm. É que tanto pode vir do continente americano, de onde são originárias, como da Macaronésia (ilhas do Atlântico Norte, que abrangem as regiões autónomas portuguesas, as Canárias e Cabo Verde). Na Madeira e em algumas ilhas dos Açores existem colónias estáveis destas borboletas. Mas terão sido estas que avançaram para o continente? "Só estudos genéticos poderão eventualmente esclarecer esta questão de forma objectiva", referem Palma e Bívar de Sousa.

E será possível a Europa vir a ser palco da fabulosa migração que as borboletas-monarca percorrem na América do Norte? Improvável. "Estas populações são aparentemente sedentárias, tais como as do sul de Espanha, Madeira, Canárias e Açores, ao contrário das norte-americanas, embora isso não queira dizer que não existam movimentos dispersivos importantes que podem estar na origem da colonização da Península Ibérica a partir da Madeira ou Canárias, caso seja esse o caso", esclarece Luís Palma.

Mesmo que se deixem ficar apenas nas zonas de várzea das ribeiras algarvias, a sua simples presença nesta região já é um boa notícia. Nem que seja só porque a tornaram mais bonita.