Enzima destrói bactérias do carbúnculo em segundos

Além de destruir as bactérias de carbúnculo numa questão de segundos, o PlyG parece ter também a capacidade de detectar a presença dos seus esporos, ou seja, as cápsulas muito resistentes no interior das quais o vírus permanece adormecido, num estado latente, para entrar em acção apenas quando encontram um novo hóspede para infectar.

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Além de destruir as bactérias de carbúnculo numa questão de segundos, o PlyG parece ter também a capacidade de detectar a presença dos seus esporos, ou seja, as cápsulas muito resistentes no interior das quais o vírus permanece adormecido, num estado latente, para entrar em acção apenas quando encontram um novo hóspede para infectar.

A descoberta, publicada na edição de hoje da revista "Nature", é o culminar de uma investigação de quatro anos, mas não podia ser mais oportuna. A ameaça do bioterrorismo depois dos ataques de 11 de Setembro em Nova Iorque levou as autoridades norte-americanas a pressionar os cientistas no sentido de descobrirem novas formas de combate a bactérias resistentes aos antibióticos. A equipa de Rockefeller já usava há vários anos as enzimas dos bacteriófagos para destruir bactérias em tubos de ensaio, mas só agora decidiu explorar melhor o seu potencial médico.

Ódio de estimação

Os cientistas concentraram-se numa classe de bacteriófagos que são especialistas em infectar o "Bacillus anthracis". Os bacteriófagos são a forma de vida mais abundante na terra, sublinha um comunicado da universidade, e estão presentes em todos os locais onde se desenvolvem bactérias. A sua função é destruí-las: injectam-se nas suas células e reproduzem-se centenas de vezes até as fazerem explodir.

Quase todas as bactérias têm um microrganismo correspondente capaz de as destruir e, em alguns casos, é uma relação quase exclusiva, uma espécie de ódio de estimação: um bacteriófago só consegue destruir uma determinada bactéria ou, mesmo, uma única estirpe de bactérias.

Aquilo que a equipa de Rockefeller fez foi isolar uma enzima do bacteriófago que infecta o "Bacillus anthracis" e que tem como função exactamente rebentar com as paredes celulares da bactéria. Verificaram que umas gotinhas desta enzima, actuando de forma isolada, matavam quase instantaneamente as bactérias de carbúnculo que enchiam um tubo de ensaio - incluindo as da estirpe Ames, que foi usada nos envelopes contaminados enviados para várias pessoas nos EUA, depois do 11 de Setembro.

Os bacteriófagos são a base dos antibióticos normais. No entanto, as bactérias são capazes de desenvolver resistência contra os seus bacteriófagos e, por isso, conseguem também resistir aos antibióticos. O grande contributo deste estudo reside exactamente na forma como contornam este problema.

Os cientistas verificaram, em laboratório, que as bactérias não conseguiam desenvolver formas de combate à acção tão específica da enzima e, pensam, por isso, ter dado o primeiro passo para a definição de um novo tipo de antibióticos. Como quase todas as bactérias têm bacteriófagos, pensam que bastará isolar as mesmas enzimas em cada um deles para que sejam eficazes.

Mas a equipa acredita poder eliminar a bactéria ainda antes desta começar a actuar, libertando as suas toxinas. Quando o "Bacillus anthracis" não tem nenhum organismo novo para infectar, fica num estado latente, assumindo a forma de uma partícula muito dura e resistente - os esporos. Poderá manter-se assim centenas de anos, até despertar ao sentir a presença de um novo hóspede onde possa reproduzir-se. Os cientistas afirmam que os esporos podem ser despertados e aniquilados combinando a PlyG com um agente germinador chamado L-alanina: este desperta a bactéria, que a PlyG depois se encarregará de eliminar.