Melgaço vai ter museu de cinema

O protocolo que institui a criação do Museu Municipal do Cinema Jean Loup Passek foi assinado anteontem em Melgaço. Na sessão, o presidente da câmara local, Rui Solheiro, começou por agradecer a deferência do coleccionador francês pela terra, e contextualizou a aposta no museu no esforço continuado pelo "melhoramento das condições de vida" de uma população e de uma região muito marcadas pelo fenómeno da emigração.

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O protocolo que institui a criação do Museu Municipal do Cinema Jean Loup Passek foi assinado anteontem em Melgaço. Na sessão, o presidente da câmara local, Rui Solheiro, começou por agradecer a deferência do coleccionador francês pela terra, e contextualizou a aposta no museu no esforço continuado pelo "melhoramento das condições de vida" de uma população e de uma região muito marcadas pelo fenómeno da emigração.

Curiosamente, a criação do museu resulta do contacto de Passek com os emigrantes em Paris, no início da década de 70, altura em que ele descobriu a natureza fraterna dos tralhadores portugueses. "Foi aí que conheci dois amigos que me convidaram a passar alguns dias na sua aldeia. Fui recebido de tal maneira que decidi construir uma casinha nela. Desde então, passo algumas semanas, sempre demasiado curtas, neste Minho que aprendi a conhecer e a amar", disse, na sessão, Passek, justificando assim a sua opção por doar o seu espólio a Melgaço.

Em declarações ao PÚBLICO, o coleccionador confidenciou que o seu espólio foi cobiçado por vários arquivos franceses, e também pela Cinemateca Portuguesa.

"Mas o meu desejo, desde o início, foi criar um pequeno museu sentimental e pessoal, numa terra pequena, para que ele fosse visitado apenas por pessoas que se interessem verdadeiramente pelas memórias do cinema".

A atentar no projecto agora anunciado pela Câmara de Melgaço, o Museu Jean Loup Passek - que vai ser dirigido e programado pelo francês - vai ser algo mais do que isso. O próprio presidente da câmara dizia anteontem ao PÚBLICO que o nome do coleccionador francês - a que a autarquia atribuiu, no sábado, a Medalha de Ouro do município - é, por si só, "uma garantia de que a importância deste equipamento vai ultrapassar as fronteiras locais". Será antes um núcleo vivo de animação, tanto de todo o Alto Minho como do próprio país.

Refira-se, em abono da expectativa dos responsáveis de Melgaço, que o espólio de Passek tem características únicas no mundo da Sétima Arte. Por via da sua relação com o meio do cinema (ver caixa), Passek reuniu ao longo das últimas três décadas um espólio de perto de um milhão de fotografias (entre elas estão as imagens das 65 exposições que organizou no Centro Pompidou), centenas de cartazes, inúmeros aparelhos da época anterior ao cinema (lanternas mágicas, por exemplo) e inúmera documentação que inclui fotos autografadas por figuras como Charles Chaplin, Jules Dassin ou Melina Mercoury, cheques assinados por Raoul Walsh e James Stewart e tantas outras raridades...

Para acolher estes documentos preciosos, a Câmara de Melgaço destinou a antiga casa da Guarda Fiscal, junto à cerca da muralha medieval, que vai agora entrar em obras de restauro, segundo um projecto do arquitecto Pedro Sousa, de modo a permitir a abertura do museu no decorrer do próximo ano. O orçamento para as obras é de 300 mil euros, e o custo final do equipamento deverá ascender a 500 mil.