Paul Baran: morreu um dos pioneiros da Internet

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Em anos mais recentes, as origens da Internet têm estado sujeitas a reivindicações de autoria de processos, mas Baran nunca quis ficar com os créditos para ele Nuno Ferreira Santos

Paul Baran, um dos pioneiros da Internet, morreu de complicações relacionadas com um cancro do pulmão no passado sábado, aos 84 anos de idade. Baran era um dos engenheiros que ajudou a criar a Arpanet, a rede precursora da Internet que hoje conhecemos.

No início da década de 1960, enquanto trabalhava para a empresa RAND, na Califórnia, Paul Baran sublinhou a importância de agregar dados em “pacotes”. Esses “pacotes” seriam depois enviados por diferentes “caminhos” através de uma rede e reconstituídos, pedaço a pedaço, quando chegassem ao seu destino. Semelhante processo é conhecido por packet switching.

O objectivo de Baran era o de criar uma rede de comunicações mais distribuída, que fosse menos vulnerável a ataques. Numa série de documentos técnicos publicados em 1960 Baran sugeriu que as redes deveriam ser construídas de forma a que se determinado “caminho” fosse destruído, as mensagens conseguissem chegar ao destinatário por outra via.

Quando, em meados da década de 1960, Baran abordou a operadora de redes telefónicas AT&T com esta ideia, a empresa insistiu que a sua ideia não funcionaria e recusou-se a investir no plano.

Vinton Cerf, considerado o “pai” da actual Internet, lembrou ao “NY Times” que Baran - de quem foi colega e grande amigo - como alguém que não tinha medo de ir na direcção contrária àquela que todos pensavam ser a melhor ou a única.

Em 1969, a Defense Department’s Advanced Research Projects Agency criou a Arpanet, uma rede que usou as ideias de Baran e de outros que, na mesma altura, estavam a pensar em redes de transmissão de informação menos vulneráveis a ataques.

A Arpanet veio a ser substituída pela Internet, mas o processo de packet switching continua a estar no cerne do processo de transferência de dados.

Da Polónia para Filadélfia

Paul Baran nasceu a 29 de Abril de 1926, em Grodno, na Polónia. Os seus pais mudaram-se para os EUA em 1928 e Baran cresceu em Filadélfia. O seu pai era comerciante e, em criança, Paul costumava ajudá-lo entregando encomendas.

Frequentou o Drexel Institute of Technology, que mais tarde se transformou em Universidade (Drexel University), onde se licenciou em engenharia eléctrica, em 1949.

O seu primeiro trabalho foi na empresa de computadores Eckert-Mauchly, em Filadélfia.

Em 1955 casou-se com Evelyn Murphy e mudaram-se para Los Angeles, onde Paul arranjou trabalho na Hughes Aircraft, trabalhando com sistemas de processamento de dados captados por radar. À noite estudava na Universidade da Califórnia, em LA.

Em 1959 completou o mestrado em engenharia. Nesse mesmo ano saiu da Hughes Aircraft para ir trabalhar para o departamento de ciências da computação da empresa RAND, onde depressa ficou fascinado pelo tema de capacidade de resistência dos sistemas de comunicações em caso de um ataque nuclear, isto em plena Guerra Fria. Durante esses anos escreveu uma série de documentos - dois dos quais secretos - pedidos pela Força Aérea americana.

Em 1968, Baran abandonou a RAND e co-fundou o Institute for the Future, um grupo de trabalho sem fins lucrativos especializado em previsões de longo alcance; uma espécie de instituto para visionários.

Simultaneamente, Baran criou sete empresas, cinco das quais acabaram por entrar em Bolsa.

Em anos mais recentes, as origens da Internet têm estado sujeitas a reivindicações de autoria de processos, mas Baran nunca quis ficar com os créditos para ele. “A Internet é realmente o trabalho de um milhar de pessoas”, disse, numa entrevista, em 2001.

Baran deixa um filho, David, três netos e a sua actual companheira, Ruth Roth.

Notícia actualizada e corrigida às 16h30
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