Ello

Na última semana muito se falou do Ello, a nova rede social que se apresenta como independente, sem publicidade e de acesso restrito. Para lhe aceder é necessário ser convidado por quem já é utilizador ou solicitar um convite que pode demorar cinco dias até ser aceite.

Nos últimos anos muitas redes sociais, como o Google+, tentaram opor-se à predominância do Facebook sem sucesso. Os responsáveis pelo Ello afirmam que o objectivo não é contrariar a rede de Mark Zuckerberg, mas a associação já está desencadeada.

E não surpreende. É verdade que navegando pelo Ello se percebem inúmeras diferenças, mas o tipo de discurso arquitectado parece em tudo enquadrar-se numa estratégia de contestação do Facebook.

A oratória incide na transparência, na recusa comercial e na atenção à privacidade. No seu manifesto, o Ello faz passar a ideia de que no Facebook os utilizadores são encarados como meros consumidores. Do lado do Ello acena-se com a bandeira da autonomia, apesar dos criadores daquela rede social terem beneficiado de um investimento de um fundo investidor, o que já é visto por alguns como uma traição aos princípios proclamados.

Quem possui uma relação de desconfiança em relação ao desgastado Facebook, gosta naturalmente de ouvir o que é ostentado pelo Ello. Resta saber se aquilo que é referido é realista.

No início, na forma como o Facebook se afirmou, também existia pouca objectividade. A começar pelo engodo de que se tratava de uma rede entre amigos num espaço de privacidade. Não é verdade. Quando muito é uma rede entre contactos em espaço semipúblico.

Para já o Ello apresenta-se elegante e muito ordenado. Os perfis são simples e minimalistas, com uma pequena descrição, um espaço para deixar ligações, uma foto de perfil e outra de capa.

Navega-se pelas suas avenidas e tudo funciona numa impoluta perfeição. É como um bairro construído de raiz por um grupo de arquitectos e designers atentos aos recentes sintomas da moda.

Mas como todos os bairros com essas características só se perceberá dos seus limites e potencialidades quando começar a ser realmente vivenciado pelas pessoas. É quando surgirem os conflitos e as tensões inerentes à existência em sociedade, seja digital ou real, que se aquilatará das suas verdadeiras capacidades.

Ao longo da sua história o Facebook já foi alvo das mais variadas queixas. Basta lembrar nos tempos mais recentes a polémica à volta da caixa de mensagens, os vídeos autoplay, as criticas aos métodos de investigação e respectivo pedido de desculpas, ou a exclusão dos perfis de drag queens, por utilizarem os nomes sociais e não a identidade de baptismo, conforme os termos de uso da rede social.

Ou seja, o catalisador da possível popularidade do Ello pode ser a reputação danificada do Facebook, mas fica a ideia que mesmo que tenha sucesso nunca terá a dimensão do Facebook pelo tipo de interacção que supõe. É cedo para traçar o seu destino. Pode ser algo sobre o qual não ouviremos falar daqui a uns meses como pode ter vindo para ficar. Mas muito dificilmente será alternativa ao Facebook. Quando muito será qualquer coisa de adicional. Para já pode ter o efeito de despertar e melhorar o gigante Facebook. 

 

Sugerir correcção
Comentar