Por uma escrivaninha

Escrever, com canetas em bons papéis, será o nosso futuro. Mau.

A partir da puberdade tive sempre máquinas de escrever — manuais e eléctricas — e, depois, computadores cada vez melhores: até hoje.

Com 60 anos lembro-me dos meus 6 anos: a minha idade dividida por 10, como 800 anos é a idade divida por 10 de quem tem 80 anos. Só precisei de uma caneta e de um caderno para escrever o meu primeiro livro, que era um plágio descarado do Tom Sawyer de Mark Twain.

Agora dou por mim a desejar a mesma simplicidade. Quero uma secretária — que seja mais uma mesa do que uma escrivaninha — onde eu possa escrever à mão, em todos os cadernos e com todas as canetas que tenho, com o espaço e a liberdade que me escapam.

O computador — que até aqui tem mandado em mim, apesar de eu pensar nele como sendo um criado-robô — ficará noutra mesa, pequena e rasca, ideal para escrever com um teclado sobre os meus joelhos.

No renascimento recente de canetas, cadernos, tintas e papéis tradicionais e novos, falta sempre o elemento mais sólido, antiquado, barato e fácil de obter: a secretária; a mesa; a escrivaninha de madeira bruta.

A altura da mesa ou da secretária não interessa: é a cadeira que pode ser facilmente ajustada conforme a altura e o peso de cada uma e de cada um.

Assim seja, que assim está bem: escrevemos com as mãos e nas mesas. O resto são cerimónias e habituações. Precisamos de canetas e de cadernos para nos exprimirmos: para podermos escrever.

Escrever, com canetas em bons papéis, será o nosso futuro. Mau.

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