O grande menino

Estávamos a tomar banho numa piscina e, à nossa frente, estavam dois meninos, de 9 ou 10 anos, a atirar uma bola um para o outro.

A bola veio parar ao pé da Maria João e ela devolveu-a ao menino que veio apanhá-la.

"Obrigado", disse o menino brasileiro, "querem brincar?"

Para aquele menino, tão bem-educado e generoso, não havia distâncias de idade. Ficámos comovidos e admirámos a simpatia e a humanidade dele. E sentimo-nos vaidosos por ele nos ter convidado.

Estou sempre a dizer, com humildade e ignorância – e logo sem qualquer condescendência (quem me dera) – que temos muito a aprender com os brasileiros. Eles bem nos ensinam, da melhor maneira (pelo exemplo), mas nós – não só os portugueses como quase todas as outras nacionalidades – somos lentos aprendizes, mal habituados à desconfiança e ao que julgamos ser a sinceridade.

Para aquele professor brasileiro de nove ou dez anos, nós também éramos seres humanos, capazes de brincar com ele e com o amigo: com quatro jogadores, a posse de bola passa para metade mas o número de personalidades e de estilos de jogo dobra.

Nós respondemos, apesar dos nós nas gargantas e das lágrimas a fazerem-nos películas à frente dos olhos, portuguesmente de mais: "Não, obrigados".

A verdade é que queríamos brincar. Temíamos era que eles não quisessem brincar connosco. Eis a obstrução doentia dos portugueses, ingleses, japoneses e tantos outros do nosso embaraço.

Para a próxima, se houver próxima, brincamos mesmo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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