O dia de exame do 6.º ano também pode ter um final feliz

Composição da prova de Português do 6.º ano pedia aos alunos para descreverem algo que os deixasse contentes. Um exame “muito fácil” deixou quase todos de sorrisos no rosto.

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Para os alunos que fizeram o exame na EB 2,3 André Soares, em Braga, a prova foi fácil Nélson Garrido
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Martim foi um dos primeiros alunos a sair da escola quando soou o primeiro toque de saída do exame do 6.º ano. Na mão trazia apenas a folha de rascunho, pouco usada, que tinha tido ao seu lado durante a prova e uma esferográfica. Vinha sorridente. “Só houve uma parte que me causou problemas”, conta este aluno da EB 2,3 André Soares, em Braga, a composição. “Para mim nunca é muito fácil fazer um texto assim”.

O enunciado da prova pedia aos estudantes que imaginassem algo que os deixasse muito felizes. Martim imaginou que encontrava um cachorro dentro de uma caixa, abandonado na rua. “Levámo-lo para casa e ficamos com ele”, descreve. E o exame, também o deixou feliz. “Sim, não foi assim tão difícil”.

O sentimento à saída da escola de Braga era comum à maioria dos alunos: o exame de Português tinha sido “acessível”, “fácil” ou “muito fácil”. “Tentaram assustar-nos a dizer que ia ser muito difícil e afinal…”, desabafa outro aluno, Filipe. Apenas uma questão levantou maiores dificuldades, a número 6, do grupo 2, onde era pedido aos alunos que explicassem como é que as jóias reflectem a luz: “Não sei se respondi bem a essa”. Pedro, que tinha saído da escola com ele, concorda. “Também foi nessa que parei. Mas fora isso, correu muito bem. Estávamos bem preparados, fizemos revisões e testes. E eu estudei muito”.

Duas horas antes da saída dos alunos, Maria da Graça Moura não larga o guião dos exames do 6º ano. Era a forma de a directora do agrupamento de escolas André Soares não se perder de todos os passos que são precisos dar para cumprir as determinações do Iave para esta terça-feira. Há indicações quase minuto a minuto do que se pode ou não fazer antes e durante a prova de Português. Os 212 alunos inscritos puderam começar a responder ao enunciado às 9h30, mas, mais de meia hora antes, já não havia sinal deles à porta da EB2,3.

A entrada dos estudantes que iam fazer o exame tinha acontecido quinze minutos antes. A partir daquele momento, só podia circular dentro da escola quem tivesse o crachá indicativo de que estava de serviço aos exames. Do lado de fora do portão da escola de Braga mantinham-se apenas os alunos do 5.º ano que, não podendo ficar na escola enquanto os colegas faziam a prova, passaram a manhã numa visita de estudo.

Cumprir as exigências do Iave para a organização dos exames do 4.º e 6.º anos implica uma operação logística complexa para a André Soares. Na véspera da prova do 2.º ciclo, 199 alunos das várias escolas do agrupamento vieram à sede fazer a prova do 4.º ano. Para garantir a mínima interferência possível no calendário lectivo, uma ala do edifício manteve as actividades previstas e os restantes alunos foram ter aulas às escolas vizinhas do Carandá e Fujacal. Nesta semana de provas nacionais, cada ano fica sem aulas apenas uma manhã. A escola até podia ter fechado mas, como o início do ano já tinha sido atribulado, dadas as dificuldades na colocação de professores, a direcção “não queria prejudicar mais estes alunos”.

Associações de professores consideraram prova acessível

As duas associações de professores de Português consideraram a prova acessível e adequada. “Um aluno médio fez a prova sem dificuldades, os de nível bom poderão obter bons resultados”, afirmou Filomena Viegas, da direcção da Associação de Professores de Português (APP), que considerou que, “para além de adequada à faixa etária e ao programa”, a prova estava “muito bem estruturada”. O parecer da Associação Nacional de Professores de Português (Anpropor) é igualmente positivo. Esta organização, criada recentemente,  nota que os dois primeiros grupos correspondem ao objectivo de promover "nos alunos o sentido estético, o sentido crítico e o rigor" e que o conjunto de questões sobre gramática foi "bastante acessível”. 

Dirigentes das duas associações de professores esclareceram que o item que aparentemente atrapalhou algumas das crianças obriga-as a fazer uma inferência. No texto, o autor escreve que a gruta "não é nada escura", acrescentando que "todos aqueles tesouros parecem irradiar luz". Naquela questão, em particular, é citada outra parte do texto, em que são enumerados elementos que constituem aquele tesouro ("jóias amontoadas sobre bandejas de cobre, esmeraldas de um verde vivo, diamantes cristalinos como a água, ágatas multicores") e pergunta-se como é que contribuem para que haja luz na caverna.

Teresa Martins Brito, da Anproport, considera que a questão "podia ser mais dirigida" e "incluir os elementos "de luz"" referidos no texto. Na opinião de Filomena Viegas, da APP, a pergunta está formulada de forma correct, e os alunos, "que tinham acabado de ler o texto, terão sido capazes de falar do brilho das jóias, que, segundo o autor, pareciam irradiar luz". O exemplo de resposta que o Instituto de Avaliação Educativa (Iave) apresenta  é o seguinte: "As esmeraldas de um verde vivo, os diamantes cristalinos e as ágatas multicores são jóias brilhantes e, por isso, dão luz à caverna".

Segundo o Ministério da Educação e Ciência, fizeram a prova 104.390 alunos, o que corresponde a 99% dos inscritos.

 

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