João partiu para Inglaterra para procurar trabalho e foi morto quatro dias depois

Homem acusado de homicídio filmou o português no chão, a tossir e a gemer, num beco de Crawley.

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João Esteves chegou a 15 de Janeiro ao aeroporto de Gatwick, mas dois dias depois já queria regressar AFP PHOTO / Adrian Dennis

João Esteves, 45 anos, terá ido para Inglaterra para procurar trabalho. Ao fim de quatro dias, procurou ajuda num centro para pessoas sem-abrigo. Não havia lugar. Disseram-lhe que aguardasse. Horas depois, de madrugada, foi atacado num beco da zona industrial de Three Bridges, em Crawley. O alegado homicida filmou e fotografou alguns dos últimos momentos de vida do português.

Daniel Palmer, 24 anos, está acusado de ter espancado, na madrugada de 19 de Janeiro deste ano, João Esteves e de o ter deixado estendido na rua, para morrer. O julgamento começou nesta semana, no tribunal de Lewes. Serão ouvidas duas dezenas de testemunhas. O júri é constituído por sete homens e cinco mulheres.

Tudo deverá estar concluído em quatro semanas, no máximo, segundo a edição online do Crawley News que, nesta quarta-feira, acompanhou a sessão onde foram mostradas imagens de videovigilância, recolhidas em diferentes locais da cidade, que mostram os dois homens. As imagens, conjugadas com os depoimentos de algumas testemunhas, permitiram à acusação reconstruir os últimos passos de ambos naquela noite de sábado e nas primeiras horas de domingo: passaram por bares, beberam, até se cruzarem no caminho um do outro.

Daniel Palmer afirma que está inocente. À polícia, na altura do crime, Margarida Esteves, irmã de João, disse, citada pela BBC, que estava em estado de choque. E garantiu que o irmão, que em Portugal vivia com a mãe, não era de todo “um arruaceiro”.

Queria regressar
João Esteves, que a imprensa inglesa identifica como sendo de Lisboa, chegou a 15 de Janeiro ao aeroporto de Gatwick. Segundo apurou a polícia do condado de Sussex, citada pela agência Lusa, voltou ao aeroporto dois dias depois, onde dormiu. Procurava uma forma de pagar um bilhete de regresso a Portugal.

Na noite seguinte, agentes da polícia e funcionários de Gatwick terão sugerido que se dirigisse à Crawley Open House, instituição que dá apoio a pessoas sem-abrigo. Porém, esta já não teria camas disponíveis. Passava das 22h.

Segundo a polícia, os funcionários da organização de solidariedade deram ao português uma bebida quente, comida e agasalhos e aconselharam-no a permanecer do lado de fora do portão até à hora de reabertura, na manhã seguinte.

O procurador da coroa Paul Valder, responsável pela acusação pública, citado pelo Crawley News, sustentou nesta quarta-feira que, nessa mesma noite, Palmer tinha sido expulso de um bar por ter empurrado alguém. Estaria embriagado.

Não é certo o que aconteceu quando se cruzou com Esteves na rua, supostamente quando regressava a casa. Esteves também tinha bebido — testemunhas relataram, segundo o mesmo jornal, terem-no visto com uma garrafa, junto a uma igreja.

Certo é que um filme mostrado em tribunal, retirado do telemóvel de Palmer e feito pelas 2h38 da madrugada, mostra João Esteves no chão, a tossir e a gemer, perguntando o que queria ao alegado agressor, que terá ordenado ao português para se levantar.

“Ele está coberto com o meu ADN”
Depois, Palmer terá forçado Esteves a caminhar mais cerca de 400 metros. Segundo a acusação, espancou-o e apertou-lhe o pescoço com um cordel. Antes de o abandonar na rua, tirou mais algumas fotografias com o telemóvel.

Uma testemunha contou em tribunal que Palmer lhe telefonou nessa noite a dizer que tinha sido atacado por um homem armado com uma faca, que o tinha levado para o beco para lhe bater e que precisava de petróleo e de um isqueiro. “Ele está coberto com o meu ADN”, terá dito. O amigo de Palmer disse-lhe que não tinha petróleo, conta ainda o Crawley News.

João Esteves foi encontrado inconsciente às 3h25 de domingo, 19 de Janeiro, pela polícia. Foi assistido por paramédicos antes de ser transferido para o Royal Sussex County Hospital, mas acabou por morrer. A autópsia confirmou ferimentos graves na cabeça.

Daniel Palmer terá ainda voltado duas vezes ao local do crime. Numa dessas vezes cruzou-se com uma agente da polícia e disse-lhe que tinha ouvido uma discussão na rua. A polícia pediu-lhe o número de telefone para o caso de ser preciso uma testemunha. Palmer acabaria detido horas depois. Como suspeito de homicídio. com Lusa

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