“Houve buscas da polícia aí na Adega do Monte Branco?”

Proprietário queixa-se que a atribuição do mesmo nome à investigação, que visa rede de branqueamento de capitais, está a prejudicar a imagem da empresa. Clientes estrangeiros ligam a questionar envolvimento da adega.

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A adega que exporta para 18 países produz vinhos desde 2004 com as marcas Monte Branco e Alento Ana Maria Coelho

Na noite desta quarta-feira, no mesmo dia em que se realizaram buscas no 6.º andar do número 61 da Álvares Cabral, em Lisboa, na sede Rioforte, a holding para o sector não financeiro do Grupo Espírito Santo, o proprietário da adega Monte Branco, em Estremoz, recebeu telefonemas que o deixaram indignado. “Houve buscas da polícia na Adega Monte Branco?”, perguntaram-lhe.

A chamada veio de um cliente em Portugal, mas a confusão já se mostra além-fronteiras. É um daqueles casos em que nomes iguais se confundem e passam a gerar efeitos indesejados. “Tenho clientes na Bélgica e na Suíça que me perguntam o que se passa”, referiu ao PÚBLICO o empresário Luís Louro. Ora, a Suíça era precisamente o destino do dinheiro “lavado” através desta rede de branqueamento de capitais.

“Não senti efeitos no negócio, mas a imagem da minha empresa está a ser prejudicada”, disse ainda, indignado. O problema é que, desde que o processo Monte Branco, em que se investiga a maior rede de branqueamento de capitais alguma vez descoberta em Portugal, voltou a ser noticiada com maior destaque, o empresário não faz outra coisa senão atender telefonemas em que é questionado pelos seus clientes estrangeiros. Querem saber se a adega está a ser investigada por suspeita de crimes.

Face a isso, o empresário começou a avisar os principais clientes e decidiu disparar, esta quinta-feira, um comunicado massivo para as redacções. “A utilização desta sua denominação pode colocar em causa as trocas comerciais colocando em risco o seu bom nome e do seu produto”. E para não deixar qualquer dúvida sobre se há ou não crimes na adega, Luís Louro esclarece: “a adega orienta-se pelos princípios legais das entidades que regulam a actividade vitivinícola e empresarial do nosso país e declara-se cumpridora das suas obrigações fiscais”. De resto, deixa um aviso preocupado de que a confusão pode “trazer prejuízos financeiros”.

Luís Louro admite que até agora a questão não se colocava. O processo, que está a ser investigado desde 2011, recebeu o nome de baptismo Monte Branco por oposição ao nome da loja na Baixa lisboeta, a Montenegro & Chaves. Era ali, na Rua do Ouro que a tudo começava. Francisco Canas, proprietário do estabelecimento e conhecido como o “Zé das Medalhas”, era o primeiro contacto. A loja, que ganhara fama como casa de câmbio após o 25 de Abril de 1974, serviu de porta de saída de pelo menos 3,4 mil milhões que rumaram à Suíça, onde se localiza a mais alta montanha dos Alpes que terá igualmente inspirado o nome de código da investigação.

“Eu percebo que a inspiração tem de vir de algum lado, mas quando nos toca a nós e pode afectar a imagem da nossa empresa junto de clientes estrangeiros, a coisa deixa de ter piada”, criticou Luís Louro. A adega que exporta para 18 países produz vinhos desde 2004 com as marcas Monte Branco e Alento.

Certo é que os nomes com que o Ministério Público e a Polícia Judiciária baptizam as investigações recebem sempre várias inspirações. Luís Louro, porém, preferia que assim não fosse.

“Houve insensibilidade na escolha do nome que designa esta operação tão delicada. Ler em jornais e nos vários meios de comunicação social que a operação Monte Branco [investiga] o branqueamento de milhões de euros, pode confundir os consumidores e os nossos parceiros. Reservamos o direito a reagir a este tipo de situações e deverá no futuro haver mais cuidado para que estes títulos não arrastem nenhuma instituição credível para situações que possam gerar confusão quer no mercado nacional quer no internacional”, apontou o empresário indignado.

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