Hospital de Coimbra recusa tratar doente com queimaduras de segundo e terceiro graus e administração abre inquérito

Vítima foi transferida de helicóptero de Viseu, onde foi estabilizada, para o Hospital da Prelada, no Porto, onde está agora internada na unidade de queimados.

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Centro hospitalar de Coimbra já abriu inquérito ao caso SÉRGIO AZENHA

Segundo revelaram ao PÚBLICO, o doente deu entrada na noite de sábado no Hospital de São Teotónio de Viseu, mas como esta unidade não dispõe de recursos adequados e o paciente exigia cuidados urgentes foi solicitada a transferência por volta das 3h da madrugada para CHUC, que é o hospital de referência para estas situações, conforme está protocolado.

Sucede que a transferência não foi aceite pelo Centro Hospitalar Universitário de Coimbra. O argumento que terá sido avançado é que só hospital só recebe doentes a partir das 9h da manhã.

O doente, um homem de 50 anos de Sargaçais, Aguiar da Beira, vítima de uma explosão e gás na sua residência, seria mais tarde transportado de helicóptero para o Hospital da Prelada no Porto, que dispõe de uma unidade de queimados.

O director de comunicação do Hospital da Prelada, Luís Pedro Martins, relevou que o doente com queimaduras graves de segundo e terceiro grau, mas com prognóstico favorável deu entrada no hospital pelas 6h45 de domingo, transferido de Viseu.

A administração do CHUC só na segunda-feira soube do caso e de imediato contactou o director do serviço de cirurgia plástica e queimados, Jorge Lima, para se inteirar do que aconteceu na madrugada de domingo com o doente queimado, disse ao PÚBLICO fonte do gabinete de comunicação do hospital. A direcção clínica determinou a abertura de um processo de averiguações (que está já em curso pelos serviços jurídicos) para apurar quem tomou a decisão de recusar tratar o doente e por que razão o fez.

“Tudo leva a crer que terá havido um erro de comunicação entre os médicos dos dois hospitais”, disse a mesma fonte, referindo que tudo está a ser feito para que as conclusões do relatório sejam conhecidas o mais rápido possível.

O PÚBLICO contactou por diversas vezes (por telefone e email) o Hospital de Viseu, mas ninguém da administração se mostrou disponível para fazer qualquer declaração.

O caso já chegou ao grupo parlamentar do Bloco de Esquerda que vai avançar com uma queixa na Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e no Parlamento foi entregue um documento dirigido ao ministro da Saúde, no qual o BE confronta Paulo Macedo sobre esta situação, perguntando-lhe se tem conhecimento dela e se o “Governo vai apurar responsabilidades pelo sucedido, nomeadamente, sobre quem e porquê foi recusada a admissão do doente e quem aprovou as restrições ao horário de funcionamento da unidade de queimados do CHUC invocadas para recusar o doente?”

”O Governo pode garantir que não há outros serviços do CHUC a impor limitações e recusar doentes em certos períodos do dia ou da noite?”, pergunta ainda ao BE, afirmando que “este caso evidência de forma dramática como as actuais dificuldades de acesso ao SNS já limitam e condicionam a prestação de cuidados de saúde mesmo nas situações clínicas mais graves como é o caso aqui relatado”.

O documento, a que o PÚBLICO teve acesso, denuncia esta situação, considerando-a “inacreditável e inaceitável no Serviço Nacional de Saúde” e exige o seu rápido esclarecimento “para evitar que situações deste tipo voltem a acontecer com gravíssimas consequências para a saúde dos doentes”.

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