Estão por pagar quase metade dos contratos garantidos pelo MEC para as Actividades de Enriquecimento Curricular

"Situações pontuais" no que respeita à falta de pagamento por parte do MEC são afinal as que envolvem maior financiamento.

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“Se para os adultos que trabalham férias é não trabalhar, porque seria diferente para as crianças?”, questiona investigadora Nelson Garrido

Cerca de metade das 32 entidades que celebraram contratos com o Ministério da Educação e Ciência (MEC) para o financiamento das Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) continuam sem ter recebido qualquer verba. A 26 de Dezembro, o MEC garantiu que tinha já regularizado os pagamentos com este fim e que apenas restavam “situações pontuais por resolver”.

Na quarta-feira, questionado de novo pelo PÚBLICO, o ministério esclareceu o que entende serem “situações pontuais” neste caso. “As situações pontuais que referimos eram as que, por serem montantes maiores, estavam dependentes de visto do Tribunal de Contas (TdC) para serem regularizadas. São só essas situações que estão pendentes”, informou.

As AEC, que se desenrolam fora do horário lectivo, destinam-se às crianças do 1.º ciclo e têm sido o pilar essencial para que as escolas deste nível de escolaridade estejam a funcionar até às 17h30, o que passou a ser obrigatório desde 2006.

A portaria que dá a conhecer quais as entidades financiadas pelo MEC para garantirem as AEC neste ano lectivo foi só publicada a 26 de Dezembro. Estão atribuídos cerca de 16 milhões de euros a 32 entidades. Destas, 17 têm um financiamento superior a 350 mil euros, o que obriga a que estes processos sejam sujeitos a visto prévio do Tribunal de Contas.

Em pelo menos um caso, isto já foi feito: a Câmara de  Vila Nova de Gaia recebeu no passado dia 5 a tranche que faltava relativa ao cerca de 435 mil euros prometidos para o primeiro período de aulas. A outra parte chegou a 31 de Dezembro, indicou a assessora de imprensa desta autarquia.

A maior parte (28) das entidades com quem o MEC celebrou acordos para o financiamento das AEC são câmaras municipais. Entre estas, as que têm mais verbas prometidas para 2014/2015 são as autarquias de Sintra (cerca de um milhão e 900 mil euros), Vila Nova de Gaia (cerca de um milhão de euros) e Loures (935 mil euros).

“Neste momento está em falta o pagamento de 687 mil euros relativos ao primeiro período do ano lectivo de 2014/2015. A informação que temos é que está a aguardar visto do Tribunal de Contas”, informou o vereador da Educação da Câmara de Sintra, Rui Pereira. Tem sido a autarquia a garantir o pagamento dos professores envolvidos nas AEC, acrescentou. O mesmo se passa em Loures, com pagamentos em atraso de cerca 328 mil euros.

O MEC enviou para o Tribunal de Contas 80 contratos de financiamento de colégios do ensino especial, escolas profissionais e do ensino artístico especializado e entidades promotoras das AEC, entre outros. Segundo informação do TdC, dois destes contratos foram enviados em Outubro e os restantes chegaram a partir de 15 de Dezembro. Todos foram devolvidos ao MEC por faltarem elementos.

Em relação aos dois que chegaram em Outubro, a situação ficou resolvida no princípio de Dezembro. Mas até quarta-feira passada, o MEC só tinha sido reenviados para o tribunal 12 dos outros 78 contratos que haviam sido devolvidos.

“Já financiámos o Estado em cerca de 200 mil euros. A nossa capacidade, enquanto instituição, esgotou-se”. O desabafo é do director da instituição particular de solidariedade social Know How - Aprender a Brincar, Mário Nobre, que garante as AEC em 60 escolas da zona de Lisboa e região Centro. Têm a cargo 4271 alunos e contratos com cerca de 300 professores. Têm um financiamento prometido de cerca de 647 mil euros, dos quais 263 mil deveriam ter sido pagos no princípio do ano lectivo. Até agora não receberam nenhuma verba do Estado. “Estamos com pagamentos em atraso a professores. Toda esta situação está a pôr em causa o trabalho que temos vindo a desenvolver. Na verdade, já não sabemos o que fazer”, lamenta Mário Nobre.

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