Virão mais cem Albufeiras!

Muitos políticos querem obras faraónicas e opacas e não ouvem os alertas.

A catástrofe de Albufeira estava há muito prevista. A Associação local opôs-se à parte das obras da POLIS, que o presidente da câmara impôs. Especialistas falaram das chuvas que ocorrem a cada nove anos e que a Ribeira de Albufeira, agora encanada, escoa um grande vale.

Há muito que se prevê marés mais vivas, a subida do mar e enxurradas mais frequentes. Muitos políticos querem obras faraónicas e opacas e não ouvem os alertas.

A Proteção Civil quer catástrofes? Mostra quantas pessoas e meios foram utilizados para abrandá-las, em vez de evitá-las. Quanto maior o orçamento, mais prestígio! Noutros países, bom administrador é o que prevê e previne, não o que onera o orçamento. O pior custo é o privado, que governos só compensam em parte, após muitos anos. E o humano, a perda dos bens e parentes queridos, a dor de sentir destruído o trabalho de uma vida?

Pagamos impostos para os governos usarem o alerta dos especialistas. Se rompem o pacto social ao nos infligir catástrofes previsíveis, ao infringir os nossos direitos, podemos negar pagar as obrigações, isto é, os impostos. Temos três opções: protesto nas ruas, que não resulta, parar de pagar impostos ou mudar o sistema. A democracia não cai do céu ou de Bruxelas. Deve ser conquistada a cada dia.

Outras catástrofes para as quais já se alertou são as de fogos em shoppings. Os amplos corredores, aprovados pelos bombeiros, são usados para stands, aos fins-de-semana. No Brasil, há poucos anos, morreram 284 ao não conseguirem sair. Aqui os bombeiros não podem travar, há uma lacuna no regulamento, e a ASAE não autua. Só após a perda de vidas e de milhões é que as agências de controlo irão (talvez) agir? E nós, calados como na era de Salazar?

Consultor internacional, autor de Como Sair da Crise, Portugal Rural e Ontem e Hoje na Economia

 

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